terça-feira, 9 de novembro de 2010

Não é que nunca tivesse errado. Não é que não tivesse culpa que perturbasse aquela leveza de agora, ou que não sentisse, às vezes, uma depressão enorme que vinha e por um milésimo de segundo parecia infinita. É só que agora, sei lá, agora parecia que tudo bem.
Atrás de toda a sujeira do mundo, existem os lugares bonitos. E existem os lugares que são bonitos, ao seu jeito, porque são sujos. Às vezes, a gente tem que limpar, arrumar, pintar. Às vezes, é só olhar melhor.

Sou eu

Devia haver pelo menos cinco mil pessoas no galpão improvisado, mas, de repente, no meio de todas elas, havia aquela garota de azul. Com a música tocando e a confusão de formas e cores que eram todo mundo, ele nem a teria notado, mas ela lhe tocou o braço e disse Sou eu.
Com a mais absoluta certeza, ele nunca a havia visto antes. Ela era bonita, mas não demais, e tinha o cabelo preto e tudo o mais. Ela seria mais uma no meio daqueles cinco mil, mas ela lhe tocou o braço e disse Sou eu. E ele ainda não fazia idéia de quem era ela, mas estava com vergonha de perguntar, porque não se pergunta isso a quem te chama no meio de cinco mil pessoas e diz Sou eu, então ela mesma explicou:
Eu sou a pessoa perfeita para você.
Ok, aquilo era mesmo estranho, então ele não entendeu ou não acreditou ou só não levou a sério, mesmo, que é o que se faz quando alguém no meio de uma festa fala Eu sou a pessoa perfeita para você. Por outro lado, ela era bonita e não demais, e tinha o cabelo preto e tudo o mais, então ele disse Ah, é?, e sorriu e eles andaram dali.
Eu posso provar, ela disse.
Ela tirou alguma coisa do bolso e mostrou a ele. Talvez fosse um celular em que ele pudesse ver as comunidades dela no orkut, ou talvez fosse um mp3 player com sua lista de cantores favoritos. Ele pegou e examinou de verdade, o que também era estranho, mas, a essa altura, tudo bem.
Ah, não somos tão parecidos assim, ele disse, devolvendo fosse lá o que fosse.
Não, ela disse.
E pode dar certo?
Ela riu e pegou na não dele.
A gente vê.