sexta-feira, 1 de março de 2013

Foi um sonho relativamente longo.

Eu sei que sonhos não são realmente mais longos ou mais curtos, sei que eles só duram alguns segundos e que, se parecem se estender por horas, é só porque essa é a impressão que deixam em nosso cérebro, mas, dentro dessa concepção muito específica de duração, que só se aplica aos sonhos, aos delírios e à vida, esse foi um sonho relativamente longo. Eu me lembro do tato, me lembro perfeitamente do som, mas não me lembro de muitas imagens: apenas do cigarro e do fogo.
Seria melhor se eu estivesse em um gramado sombreado por árvores ou em um banquinho à margem de algum rio, mas não havia cenário, não havia companhia, não havia horizonte; apenas o cigarro e o fogo. O cigarro queimava devagar. Estava na minha mão e eu sentia o papel e a palha dentro dele (não havia filtro, não era um cigarro fabricado. Também não havia o fedor de cigarro, mas um cheiro como o de pinhas na lareira.) e sentia um calor fraco nos dedos. Ele fazia o ruído baixinho e eterno de uma fogueira pequena --- o crecrec confortável, quente e ameaçador das coisas que queimam sem pressa ---, mais intenso quando eu tragava e sua luz aumentava e o papel se incendiava minusculamente entre meus dedos, mais fraco nos intervalos, quando eu me distraía e ele podia respirar.
Provavelmente, havia algo ao meu redor, algum estímulo visual qualquer, talvez vozes. Provavelmente, se eu conheço meus sonhos, havia mais gente, comigo.
Mas eu me lembro do cheiro, do tato e do som e da imagem do cigarro e do fogo, apenas.