quinta-feira, 28 de maio de 2009

A vida não é o bastante (13/10/08)

Se tivesse que pintar-se, pintar-se-ia o Artista qual cavaleiro ou qual florista, mais alto do que belo, mais belo do que forte; dar-se-lhe-ia roupas do medievo e um aspecto — de que sorte? Imponente?, intrigante?, inteligente, certamente. Quando andava assobiava, canário, e ria-se e via-se que seguia sem destino nem caminho, que o mundo lhe era cenário, tão somente dele não era parte; apenas retratava-lhe a Arte.
Subia a rua o Artista, o olhar clínico, o pincel cínico na mão e um faro que o levava para onde a Arte poderia estar, e parou na praça, sabendo que ia pintar. Amarrou o cachorro, montou o tripé e começou o trabalho. Ao seu redor, uma mulher com os filhos, um vendedor de qualquer coisa, velhinhos, um baralho, as coisas de sempre.
E era aí que estava seu diferencial, era isso que lhe dava a maiúscula, era esse seu dom de olhar e enxergar o que queria, e podia ser um canto de algum pássaro ou de algum prédio, sempre havia alguma coisa que lhe apontava algo mais no dia a dia, onde outro qualquer, nada veria. Então, pintou pelo resto da tarde, e nenhum dos presentes reconheceu a paisagem pintada e julgaram-no louco, porque nenhum via a Arte que ele retratava. Viam nos prédios, pedras; nos pássaros, penas, apenas. Porque vazios, viam vida, e era pouco.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Um post demasiado bunda-mole

A bala é um comprimido de metal não maior do que um dedal rodopiando. O furo é menor do que uma moeda de 10 centavos; se você não soubesse, nem notaria. Atrás é que o impacto faz o estrago maior e são crânio, miolo, sangue na parede.
Sangue na minha boca, sempre gostei do sabor, mas agora... Sinto vontade de compartilhar com você. Você percebe, é claro, e me beija para sentir o gosto também, mas acho que não é só isso, talvez seja essa sua mania de concluir as coisas, talvez você só queira dar um beijo que sabe ser o último.

Esse sou eu, obviamente antes. Você ainda não está lá, mas não deve demorar. Veja: eu manobro o barco e desço no cais e lá está você, próxima ao muro, meio escondida, porque somos só nós dois, sempre só nós dois, desde que tínhamos o quê? Dez, onze anos? Não mais do que isso.
Na época eu achava que me doía ver você tão sozinha, tendo que deixar sua família por mim. Pensando agora, acho que eu nunca me senti culpado de verdade. Você sabe que nós nunca tivemos por quê nos desculpar, e na época eu acho que a minha raiva de tudo ainda não havia se desenvolvido tanto, eu acho que as coisas entre nós eram maravilhosas demais para eu perceber. Por isso é que foi só quando as coisas se radicalizaram, quando os do nosso tipo passaram a ser perseguidos (e nçao só histilizados), só então é que nossa história começou.
Eu me lembro de ficar bravo porque você sempre foi mais criticada do que eu, só porque eles achavam que você não havia nascido assim, havia escolhido depois, por minha causa. Como se isso fosse coisa que se escolha! Eu me inconformava, você se lembra, eu achava odioso, e agora, quem diria?, você vem e me mostra que não, que foi melhor eles terem pensado assim! Que pelo menos um de nós pode se salvar e basta que ninguém jamais descubra que, por essa sua teimosia besta, você decidiu me dar um último beijo, ainda com a arma quente na mão.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Um post demasiado pessoal

Acho que é normal as pessoas mudarem. Acho que é bom. Encontrar alguém, pra gente, pra sempre. Pra justificar tudo. Mas eu vi seu quintal e tinha lixo, e tinha mato no seu jardim e o pior de tudo era que o pomar estava limpo e lindo e dava limão no limoeiro, mas pra quem? Eu não colhi, ninguém colheu. Era você que tinha que colher.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Somos todos sádicos

Porque amamos;
E sofremos e choramos, (Nós sabemos o quanto dói.)
E ainda quanto fazemos para que nos amem!