terça-feira, 28 de setembro de 2010

Eu não queria, ainda.

Na verdade, nunca me senti melhor, é até estranho, mas não tão estranho assim! As pessoas não responderam. Todas vestiam preto e estavam solenes e algumas choravam. Os homens tiraram os chapéus, as mulheres apertavam as mãos contra o peito. Tão nova, tão nova... E ela ali, dizendo Não, vocês não entendem, é só não fazerem isso, é só me deixarem ficar, mas o luto já estava instaurado, as lágrimas vertidas, todo mundo ali, com ela, por ela, todo mundo adeus e só ela não, não, e quem é ela? É só ela, só ela e nem é mais.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Dank u well, doei, doei.
Eu falei e fui embora, eu falei e fui embora.
Dank u well, doei, doei.
Satisfações e até mais ver, satisfações e até mais ver.
Dank u well, doei, doei.
E ela tão assim pequena, ela tão assim pequena,
Dank u well, doei, doei.
Era bem maior que eu, era bem maior que eu.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Quando ele começou a trabalhar no escritório,

na baia ao lado, uma das primeiras coisas que ela percebeu foi que seria difícil agüentar o cheiro. Demorou um pouco mais pra ela entender o que era aquilo e quando ela percebeu, não ficou muito mais satisfeita, porque o cara exalava cheiro de pinto.
Lívia sentiu nojo, lógico. Ela ficou brava e quando ele chegava, ela fingia que estava ouvindo o ipod ou lendo um artigo muito longo e difícil, alguma coisa sobre farmacologia, com palavras grandes e então ela não o cumprimentava nem olhava para o lado que era para não mirar o nariz naquele cheiro todo de pinto, pau, de coisa suja.
Mas não adiantava muito (não adiantava nada), porque ela ainda tinha que passar o dia inteiro lá e aquele cheiro vinha que nem um miasma sufocante, uma fumaça contagiante, uma coisa degradante, mesmo. Porra. Cheiro de sovaco, de suor, de cu, tudo isso ela já tinha agüentado e agüentava, mas cheiro de pau era demais e ela tinha que ficar lá, afogada naquilo, como se respirando a pica dele, tomando banho de pica dele.
E é claro que o tempo todo que ela ficava lá, ela não conseguia pensar em nada que não fosse o pau dele. Durante cada segundo do expediente, ela mantinha plena consciência de que o pau dele estava lá, ao alcance do braço, da mão, do que mais fosse. Era que nem, sei lá, ser lembrada o tempo todo de que ele era bicho macho, de que ele tinha o que era preciso para o sexo ali, pertinho, tão pertinho que saía dele, mesmo, e já penetrava nela mesmo que pelas narinas. Pelos poros.
Foi uma semana, só, de asco e depois virou obsessão. Ou melhor era ser claro e dizer: tesão. Não chegava e nem podia
Chegar a ser paixão. Mas era algo perto, que é a perda da razão. Hormônios, talvez, feromônios ou seja lá como chamam essas coisas que se vendem na internet e que de repente podiam ser substituídas por um cheiro forte não de pinto, mas de hombridade, de masculinidade. Nada a ver, também, com sexismo, mas com algo muito anterior e mais inocente do que isso.
Ele chegava e, junto com o cheiro, vinham a ela as imagens que ela imaginava do pau dele, sempre grande e suado, sempre pós-coito, os fluidos dele e dela (sim, dela) escorridos all along, os cheiros agora misturados.
Um dia, quando não dava mais, ela esperou ele levantar, ir até o banheiro e foi também, ligando pouco para alguém que estivesse vendo. Fechou a cabine e os dois ali, ele meio assustado, mas não disse nada enquanto ela tirou sua camisa (a dela) e sua calça (a dele) e agarrou aquela cueca de cheiro forte, que ela esperava suada.
E aí, aquele tamanho médio, aquela limpeza toda, a decepção de uma foda normal, ainda com o desconforto e o aperto da cabine do banheiro.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Feminismo, 2

"Por que você sempre é o ativo e eu a passiva? Isso é reflexo da opressão da mulher pelo sistema patriarcal! Deixa eu vestir esse strap-on e você vai ver só!"

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Faz uns anos, já, que tudo o que eu faço é dar motivo para as pessoas desgostarem de mim. Eu fui um merda na faculdade e desperdicei todos os anos em que fiz alguma coisa que prestava na escola. Eu sou ruim para meus amigos, falo coisas desconfortáveis e às vezes cheiro mal. Eu peido. Eu beijei. Eu fico fora de casa por tempo suficiente para irritar a minha mãe, mas eu quero voltar o bastante para brigar com minha namorada. E eu brigo com ela o tempo todo, e muitas vezes a culpa é minha. E o dolo também. (E muitas vezes não é, mas eu brigo mesmo assim.)
Eu não gosto de estudar, de trabalhar, de ficar sem fazer nada, de namorar, de terminar o namoro, de reatar, de ficar em casa, de sair de casa, de beber, de ficar sóbrio, de tomar banho, de transpirar, de dirigir, de andar de cptm e ônibus, de mentir, de falar a verdade, de escrever, de desenhar, de ouvir música, de gritar bem alto enquanto mordo o volante do carro, de me machucar, de ser um bostinha, um completo boçal que faz de tudo pra evitar a dor.
Eu sou burro, estúpido e pedante, arrogante, eu uso a palavra francamente em excesso, eu falo palavras em inglês no meio da frase, eu não entendo as coisas, eu finjo que não entendo, eu finjo que entendo, eu acho que entendo. Eu falo coisas que não têm nada a ver só porque me dá uma vontade infinita de falar, eu falo coisas erradas, eu acho super importante quando eu falo alguma coisa certa, eu acho ainda mais importante quando falo uma coisa errada, eu falo coisas erradas o tempo inteiro, eu penso nas coisas erradas que falei, eu penso no que as pessoas pensam das coisas erradas que eu falei, eu sou ridículo.
Eu odeio meu corpo, minha falta de habilidades pra qualquer coisa, minha hipocrisia, o fato de eu ter orgulho das minhas covardias e vergonha das minhas coragens, o fato de eu não conseguir mais assobiar, o fato de eu nunca ter conseguido cantar dançar chutar fazer tocar, eu odeio as coisas que eu escrevo, eu odeio as coisas que eu não escrevo, eu odeio todos os livros que eu não li.
E eu odeio o fato de eu perguntar coisas demais e me irritar porque eu nem sempre entendo as respostas, eu odeio o fato de que eu tenho inveja das pessoas que eu mais amo e admiro no mundo, eu odeio o fato de as pessoas responderem às minhas perguntas e explicarem de novo quando eu não entendo, eu odeio. Odeio quando não me elogiam, odeio muito mais quando me elogiam, odeio como mesmo dando todos os motivos do mundo, as pessoas não desgostam de mim.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Suzana

não cantava.
Nunca.
Nem no banho, nem quando tocava no rádio a música que ela mais
[amava no mundo e que havia anos que ela não ouvia, Suzana não 
[cantava nunca.
Um dia (não era nenhum dia especial nem nada do tipo era um dia) ela
[conheceu Renato
e ela pensou Eu queria ele pra mim. (Não era amor nem paixão nem
[tesão, era alguém que você encontra e pensa que quer.)
E nesse dia o Renato conheceu ela e
ele pensou que queria ela e algo deu certo, porque aquele dia era um dia
[em que as coisas davam certo.
E foi um dia bom (nem mais nem menos do que isso: um dia bom
e tudo o que a gente pode esperar na vida é um dia bom e talvez outro
[depois
ou senão, pelo menos um dia bom e ela teve um naquele dia. E mil
[pássaros podiam ter nascido, mil pessoas podiam ter sido 
[salvas e nada disso seria mais do que 
[um dia bom como aquele foi).
E mesmo assim, ela não cantou, e isso não teve importância nenhuma.