sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Você tem algumas das características mais abomináveis em um ser humano

Você é racista, você é uma ignorante política, você usa o ar-condicionado o tempo todo, mesmo quando não é preciso, você paga pela marca, você faz coisas sem sentido porque "é o correto", você é um pouco machista (mas de forma inocente), você insiste na literatura ruim, você liga demais para as aparências, você quer só o  confortável, o fácil, o caro, você tem suas hipocrisias, seus medos, você me põe tanto peso nos ombros, nas costas.


Eu ainda posso te amar?

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Não dói mais

Ver as fotos
dela
com ele
não me dói mais.

Ver os braços
dela
nele
não me dói mais.


Ver o riso
dela
por ele
não me dói mais

do que ficar sem ver

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Não é que nunca tivesse errado. Não é que não tivesse culpa que perturbasse aquela leveza de agora, ou que não sentisse, às vezes, uma depressão enorme que vinha e por um milésimo de segundo parecia infinita. É só que agora, sei lá, agora parecia que tudo bem.
Atrás de toda a sujeira do mundo, existem os lugares bonitos. E existem os lugares que são bonitos, ao seu jeito, porque são sujos. Às vezes, a gente tem que limpar, arrumar, pintar. Às vezes, é só olhar melhor.

Sou eu

Devia haver pelo menos cinco mil pessoas no galpão improvisado, mas, de repente, no meio de todas elas, havia aquela garota de azul. Com a música tocando e a confusão de formas e cores que eram todo mundo, ele nem a teria notado, mas ela lhe tocou o braço e disse Sou eu.
Com a mais absoluta certeza, ele nunca a havia visto antes. Ela era bonita, mas não demais, e tinha o cabelo preto e tudo o mais. Ela seria mais uma no meio daqueles cinco mil, mas ela lhe tocou o braço e disse Sou eu. E ele ainda não fazia idéia de quem era ela, mas estava com vergonha de perguntar, porque não se pergunta isso a quem te chama no meio de cinco mil pessoas e diz Sou eu, então ela mesma explicou:
Eu sou a pessoa perfeita para você.
Ok, aquilo era mesmo estranho, então ele não entendeu ou não acreditou ou só não levou a sério, mesmo, que é o que se faz quando alguém no meio de uma festa fala Eu sou a pessoa perfeita para você. Por outro lado, ela era bonita e não demais, e tinha o cabelo preto e tudo o mais, então ele disse Ah, é?, e sorriu e eles andaram dali.
Eu posso provar, ela disse.
Ela tirou alguma coisa do bolso e mostrou a ele. Talvez fosse um celular em que ele pudesse ver as comunidades dela no orkut, ou talvez fosse um mp3 player com sua lista de cantores favoritos. Ele pegou e examinou de verdade, o que também era estranho, mas, a essa altura, tudo bem.
Ah, não somos tão parecidos assim, ele disse, devolvendo fosse lá o que fosse.
Não, ela disse.
E pode dar certo?
Ela riu e pegou na não dele.
A gente vê.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Por que você fica vendo essas coisas?

Porque eu gosto; olha o que ela faz. Não entendo; eu faço isso, também. Faz, às vezes. Não é o suficiente? Hã, é, é o suficiente, mas é que é diferente. Diferente por quê? Não sei, você não faz assim, na internet, né? E daí? É diferente. Eu faço só pra você. Isso. Isso o quê? Tem que fazer pra todo mundo.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Parênteses

É por sua causa que eu rôo as unhas, como os dedos, me sangro e me machuco e me mutilo. (Pode parecer de uma ironia e de um humor filhadaputamente negros dizer isso, mas eu digo porque é verdade.) Também não seria mentira (seria, sim, mas não o suficiente para me impedir de) dizer que você tem a ver com eu escrever, desenhar, programar — logo você, que, acho, não escreve nem desenha nem programa (e olha eu, de novo, sendo um escroto com esse humor negro que não é). (Eu quero deletar isso tudo e me mandar à merda, mas não vou.)
Existe uma... entidade, que é uma pessoa que é maior que as outras etc. É uma pessoa só, mas, claro, são várias como eu sou vários. Você é essa pessoa, a primeira delas. Sempre que eu me lembrar, você vai estar lá, por mais que outras venham e tomem seu lugar, ou que te empurrem de lado, por mais que anos se passem (como passaram). (Se não me falham as contas, faziam 7 anos que a gente não se falava, o que representa um terço, quase, de todos os anos do mundo.)
E de repente, é saber que você não pode mais tocar, escrever, desenhar (mesmo que você não fosse fazer essas coisas, de qualquer forma). De repente é eu não saber mais o que falar, como falar, se falar. É bem mais que 158km (acabei de procurar no Google Maps), que eu não sei se posso percorrer, se devo. (Eu quero-não-quero, entende?).
Eu não gosto de ser assim, sim, sincero. Às vezes, tem-que.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Eu não queria, ainda.

Na verdade, nunca me senti melhor, é até estranho, mas não tão estranho assim! As pessoas não responderam. Todas vestiam preto e estavam solenes e algumas choravam. Os homens tiraram os chapéus, as mulheres apertavam as mãos contra o peito. Tão nova, tão nova... E ela ali, dizendo Não, vocês não entendem, é só não fazerem isso, é só me deixarem ficar, mas o luto já estava instaurado, as lágrimas vertidas, todo mundo ali, com ela, por ela, todo mundo adeus e só ela não, não, e quem é ela? É só ela, só ela e nem é mais.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Dank u well, doei, doei.
Eu falei e fui embora, eu falei e fui embora.
Dank u well, doei, doei.
Satisfações e até mais ver, satisfações e até mais ver.
Dank u well, doei, doei.
E ela tão assim pequena, ela tão assim pequena,
Dank u well, doei, doei.
Era bem maior que eu, era bem maior que eu.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Quando ele começou a trabalhar no escritório,

na baia ao lado, uma das primeiras coisas que ela percebeu foi que seria difícil agüentar o cheiro. Demorou um pouco mais pra ela entender o que era aquilo e quando ela percebeu, não ficou muito mais satisfeita, porque o cara exalava cheiro de pinto.
Lívia sentiu nojo, lógico. Ela ficou brava e quando ele chegava, ela fingia que estava ouvindo o ipod ou lendo um artigo muito longo e difícil, alguma coisa sobre farmacologia, com palavras grandes e então ela não o cumprimentava nem olhava para o lado que era para não mirar o nariz naquele cheiro todo de pinto, pau, de coisa suja.
Mas não adiantava muito (não adiantava nada), porque ela ainda tinha que passar o dia inteiro lá e aquele cheiro vinha que nem um miasma sufocante, uma fumaça contagiante, uma coisa degradante, mesmo. Porra. Cheiro de sovaco, de suor, de cu, tudo isso ela já tinha agüentado e agüentava, mas cheiro de pau era demais e ela tinha que ficar lá, afogada naquilo, como se respirando a pica dele, tomando banho de pica dele.
E é claro que o tempo todo que ela ficava lá, ela não conseguia pensar em nada que não fosse o pau dele. Durante cada segundo do expediente, ela mantinha plena consciência de que o pau dele estava lá, ao alcance do braço, da mão, do que mais fosse. Era que nem, sei lá, ser lembrada o tempo todo de que ele era bicho macho, de que ele tinha o que era preciso para o sexo ali, pertinho, tão pertinho que saía dele, mesmo, e já penetrava nela mesmo que pelas narinas. Pelos poros.
Foi uma semana, só, de asco e depois virou obsessão. Ou melhor era ser claro e dizer: tesão. Não chegava e nem podia
Chegar a ser paixão. Mas era algo perto, que é a perda da razão. Hormônios, talvez, feromônios ou seja lá como chamam essas coisas que se vendem na internet e que de repente podiam ser substituídas por um cheiro forte não de pinto, mas de hombridade, de masculinidade. Nada a ver, também, com sexismo, mas com algo muito anterior e mais inocente do que isso.
Ele chegava e, junto com o cheiro, vinham a ela as imagens que ela imaginava do pau dele, sempre grande e suado, sempre pós-coito, os fluidos dele e dela (sim, dela) escorridos all along, os cheiros agora misturados.
Um dia, quando não dava mais, ela esperou ele levantar, ir até o banheiro e foi também, ligando pouco para alguém que estivesse vendo. Fechou a cabine e os dois ali, ele meio assustado, mas não disse nada enquanto ela tirou sua camisa (a dela) e sua calça (a dele) e agarrou aquela cueca de cheiro forte, que ela esperava suada.
E aí, aquele tamanho médio, aquela limpeza toda, a decepção de uma foda normal, ainda com o desconforto e o aperto da cabine do banheiro.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Feminismo, 2

"Por que você sempre é o ativo e eu a passiva? Isso é reflexo da opressão da mulher pelo sistema patriarcal! Deixa eu vestir esse strap-on e você vai ver só!"

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Faz uns anos, já, que tudo o que eu faço é dar motivo para as pessoas desgostarem de mim. Eu fui um merda na faculdade e desperdicei todos os anos em que fiz alguma coisa que prestava na escola. Eu sou ruim para meus amigos, falo coisas desconfortáveis e às vezes cheiro mal. Eu peido. Eu beijei. Eu fico fora de casa por tempo suficiente para irritar a minha mãe, mas eu quero voltar o bastante para brigar com minha namorada. E eu brigo com ela o tempo todo, e muitas vezes a culpa é minha. E o dolo também. (E muitas vezes não é, mas eu brigo mesmo assim.)
Eu não gosto de estudar, de trabalhar, de ficar sem fazer nada, de namorar, de terminar o namoro, de reatar, de ficar em casa, de sair de casa, de beber, de ficar sóbrio, de tomar banho, de transpirar, de dirigir, de andar de cptm e ônibus, de mentir, de falar a verdade, de escrever, de desenhar, de ouvir música, de gritar bem alto enquanto mordo o volante do carro, de me machucar, de ser um bostinha, um completo boçal que faz de tudo pra evitar a dor.
Eu sou burro, estúpido e pedante, arrogante, eu uso a palavra francamente em excesso, eu falo palavras em inglês no meio da frase, eu não entendo as coisas, eu finjo que não entendo, eu finjo que entendo, eu acho que entendo. Eu falo coisas que não têm nada a ver só porque me dá uma vontade infinita de falar, eu falo coisas erradas, eu acho super importante quando eu falo alguma coisa certa, eu acho ainda mais importante quando falo uma coisa errada, eu falo coisas erradas o tempo inteiro, eu penso nas coisas erradas que falei, eu penso no que as pessoas pensam das coisas erradas que eu falei, eu sou ridículo.
Eu odeio meu corpo, minha falta de habilidades pra qualquer coisa, minha hipocrisia, o fato de eu ter orgulho das minhas covardias e vergonha das minhas coragens, o fato de eu não conseguir mais assobiar, o fato de eu nunca ter conseguido cantar dançar chutar fazer tocar, eu odeio as coisas que eu escrevo, eu odeio as coisas que eu não escrevo, eu odeio todos os livros que eu não li.
E eu odeio o fato de eu perguntar coisas demais e me irritar porque eu nem sempre entendo as respostas, eu odeio o fato de que eu tenho inveja das pessoas que eu mais amo e admiro no mundo, eu odeio o fato de as pessoas responderem às minhas perguntas e explicarem de novo quando eu não entendo, eu odeio. Odeio quando não me elogiam, odeio muito mais quando me elogiam, odeio como mesmo dando todos os motivos do mundo, as pessoas não desgostam de mim.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Suzana

não cantava.
Nunca.
Nem no banho, nem quando tocava no rádio a música que ela mais
[amava no mundo e que havia anos que ela não ouvia, Suzana não 
[cantava nunca.
Um dia (não era nenhum dia especial nem nada do tipo era um dia) ela
[conheceu Renato
e ela pensou Eu queria ele pra mim. (Não era amor nem paixão nem
[tesão, era alguém que você encontra e pensa que quer.)
E nesse dia o Renato conheceu ela e
ele pensou que queria ela e algo deu certo, porque aquele dia era um dia
[em que as coisas davam certo.
E foi um dia bom (nem mais nem menos do que isso: um dia bom
e tudo o que a gente pode esperar na vida é um dia bom e talvez outro
[depois
ou senão, pelo menos um dia bom e ela teve um naquele dia. E mil
[pássaros podiam ter nascido, mil pessoas podiam ter sido 
[salvas e nada disso seria mais do que 
[um dia bom como aquele foi).
E mesmo assim, ela não cantou, e isso não teve importância nenhuma.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Às segundas,

sextas e sábados, eu te amo tanto que dói. Eu te seguro e digo coisas bestas e prometo tudo o que eu não posso cumprir e está tudo bem. Às quartas e domingos, eu te odeio do fundo do coração, te xingo em pensamento e ergo a mão, eu te chuto a barriga arranco os olhos com os dentes e está tudo bem.
Às terças é que eu não tenho paz.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Gente fraca

tem em qualquer lugar. Gente pobre. Não de dinheiro, mas de... sei lá. Pobre. Pequena, acho que é a palavra. É bom. É bom porque é bom olhar pra baixo, é bom quando a gente é pequeno e sabe que tem gente menor por aí, gente mais pobre e fraca.
Exceto que às vezes você olha e não tem ninguém.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Você está bêbado.

Não.
Está sim, olha o cheiro de cachaça.
Não dá pra olhar o cheiro, mas não, não, não é isso. Eu não estou bêbado, ou estar bêbado, também, que importa?
Você vem aqui, derruba as coisas...
Você não queria abrir a porta, não atendeu à campainha. Nem quando eu bati muito e fiquei gritando e a dona Inês falou que ia chamar a polícia e que eu era um vagabundo, mesmo assim, você não abriu.
Não precisava derrubar o vaso.
Fui eu que te dei a margarida.
Sim.
Do vaso.
Sim.
Aí eu tive que sair porque senão ela ia mesmo chamar a polícia então eu fui para o Flor e o Bruno estava lá e ele pediu uma garrafa de Seleta e eu chorei na frente dele aí eu voltei e pus o vaso no lugar então você não tem do que reclamar porque eu consertei tudo e porque a margarida fui eu que te dei e de qualquer forma ela já estava murcha mesmo e o cachorro tinha mijado em tudo mas agora está tudo limpo e tudo bem então abra a porta por favor ou eu vou ter que gritar e a dona Inês pode chamar a polícia ou talvez ela não chame mas não faz diferença porque eu preciso mesmo mesmo mesmo entrar em casa ah obrigado obrigado eu te amo tanto obrigado agora eu também não saio mais juro nem nos dias de jogo nem quando todo mundo for no Flor e eu quiser muito ir eu não vou eu vou ficar aqui.
Eu disse.
O quê?
Que você estava bêbado.

terça-feira, 20 de julho de 2010

eu sou agora

Eu sou agora (eu agora sou ou agora eu sou)
ou é só ver ali quem é a
criança naquela fotografia, certamente
não sou eu — eu sou agora.
As pessoas dizem, mas
não sou eu.

E eu não posso
comer esse doce
tragar esse fumo
sentar assim (desse jeito)
forçar meu joelho
por causa de um velho e
Eu quase odeio esse velho
porque eu quero sentar assim, de preferência apoiado no ombro e
[torcendo as costas e tomando cerveja e comendo torresmo
Mas eu não posso

Hoje alguém perguntou
O que você tem nessa mão
e eu disse que foi por causa de uma criança e que eu tenho fotos
[dela se alguém não acreditar
mas eu gosto dela
e acho que ela não gostava muito de mim
e eu não culpo ela por nada
e nem gosto do velho.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Naquela cidadezinha,

naquela vila do fim do mundo (lembra? ninguém era maior que a gente), eu nunca te imaginei de costas, tão maior do que eu. Eu te falei pra ir, um passe e um trem, que tinha tanta coisa lá fora, mas aqui tinha eu e você não quis, e eu fiquei, só eu, só eu, só eu e essa cidadezinha essa vila no fim do mundo.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Ela não é um personagem (12/03/09)

Ela acorda cedo, mas não é tão cedo assim. É cedo. Ela trabalha como caixa em um supermercado e é um trabalho bem chato, mas pelo menos ela não precisa pensar. Ganha mal e é mal tratada o dia todo. Também ri. Depois, sai correndo, perde o primeiro ônibus e a primeira aula na faculdade de turismo. Vai ouvindo música no celular, de pé e apertada — às vezes onde não gosta. Se é assim, ela briga mesmo e não tem vergonha de barraco. No intervalo da aula, vai à seção de alunos e explica que ainda não vai conseguir quitar a mensalidade do mês anterior, e depois aceita uma cerveja que amigos lhe pagam. Perde as duas aulas seguintes com eles e também a última, porque não saem ônibus depois das 22h30. Muda para um trem depois de cinqüenta minutos e só chega em casa depois da meia noite, quando os filhos já estão dormindo e o marido ainda está vendo TV. Ao contrário do que o discursinho ensaiado sugere, não se ressente, que é ele quem paga a faculdade. Nesse dia, que são todos, ela não janta. E dorme como um bebê.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Mentira

Ter durado cinco, dez, quinze anos, nada disso faz valer a pena, porque tudo o que a gente chama de "felicidade" é, na verdade, dor em potencial. No final, é só isso o que sobra, mesmo.

Melhor era nunca ter amado.

sábado, 19 de junho de 2010

Ah,

é claro que ela sabe! Mesmo quando senta assim do meu lado, quando pega a minha mão e balança meu braço rindo. É óbvio que ela sabe o quanto dói.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Mais um poema ruim

Nada dura; tudo adoece!
Até a gente que o mundo ama,
Até o peito que nos inflama,
Até a mente que um dia esquece.

Nada dura; é tudo chama!
Tudo se vai, tudo esmorece;
Os amigos de bar e prece,
As amigas de escola e cama.

A gente não dura cem anos –
Nosso nome, vá, outros tantos...
Mas pro mundo, isso é durar nada:

Num piscar, do mundo nos vamos!
Como então é que encontramos
Tempo ainda pra uma sonata?

terça-feira, 8 de junho de 2010

Um dia em junho

Oi, diário.

Hoje eu dei carona pra ela, de novo. No caminho, ela comentou que estava com fome, então eu parei com ela em um Burger King e comprei dois lanches, pra gente comer juntos. Acho que ficamos umas duas horas conversando.

E como ela é linda! Queria, sei lá, casar com ela, ficar pra sempre no Burger King, só ouvindo!

Pena que ela passou quase todo o tempo desabafando sobre o Diego, que terminou o namoro com ela antes do feriado.

Tadinha!

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Golpista

É assim que eu faço. Pode parecer incrível, mas ainda hoje existem meninas por aí, somente bonitas o bastante para acreditar que elas, entre tantas, podem se dar bem. A ponto de levarem a sério esses caras gordos e suados que se apresentam como fotógrafos e oferecem fama, capas de revistas, vida de modelo.
Elas sabem que existem esses golpes, mas elas são só meninas e são bonitas -- somente o bastante para acreditar que, entre tantas, podem se dar bem. Aí elas ignoram os sinais. Elas pensam "e se, dessa vez, for pra valer?". Elas caem.
O tempo vai passar, mas onde quer que exista uma menina bonita o suficiente -- nem mais nem menos do que o necessário -- vai existir um tarado pronto para levá-la ao seu estúdio e tirar meia dúzia de fotos e dizer que, você sabe, ele está fazendo um investimento e o mundo do showbiz tem suas demandas e ele iria pondo sua mão nojenta cada vez mais pra cima da coxa dela.
Elas sabem que é assim, e sabem que, por serem tão bonitinhas, elas cairiam na conversa dele e teriam medo demais para qualquer coisa e, de qualquer forma, já seria tarde demais. E é por isso que meu negócio dá certo.
Pode ser em uma livraria, em uma loja de cds, em um supermercado, na frente do cinema. Eu vejo uma menina de dezesseis, talvez dezessete anos, um certo ar de superioridade, uma roupa de marca e eu percebo na hora que é o alvo perfeito. Eles também percebem. Então quando ele ainda está tirando o cartão do bolso ou talvez mostrando o suposto book de alguma outra cliente que ele teria levado ao estrelato, eu faço o que eu faço.
Eu chego, ponho a mão em volta da cintura da menina e digo "amor, vamos?". Nove em dez vezes isso é o bastante para elas saírem do transe e perceberem a merda que elas iam fazer. Elas até me agradecem. Sete em dez vezes, isso é o bastante para elas me deixarem pagar um jantar.
Eu posso ser um péssimo fotógrafo, mas ainda como mais adolescentes do que qualquer gordo suado.

domingo, 23 de maio de 2010

Citação, 4

The only words she could think to say seemed to be at once inadequate and overwrought, but they would have to do. She knew she had to at least try to stop him from loving her. Still looking down, she said, 'I can't see past my broken heart.'
'Maybe one day you will.'
She shook her head. 'Tell me, is there anything on earth that could cause your love for me to die?'
He shook his head. 'No.'
'Really? There's nothing?'
'No.'
'Then you understand.'

(Dan Rhodes, Little Hands Clapping)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

É peso na consciência, não. (21/10/2009)

Não, não, é só o meu estômago.



Eu tinha ligado para o Artur naquela noite, mas ele ia sair, não sei com quem. Eu liguei pra outras pessoas, também e ele que saia com quem ele quiser, mas ninguém mais estava na cidade porque era feriado, então eu pedi uma pizza de calabresa e comi no sofá enquanto assistia a um filme dublado na TV. Eu comi quatro pedaços, o que é muito mais do que eu jamais vou deixar alguém saber que eu aguento, e deixei cair calabresa no sofá, mas deitei em cima, mesmo, e deixei o resto da pizza no chão pra comer depois. Não era nem meia noite e eu já tava dormindo.

Aí ele me acordou; ele ligou no meu celular e eram três e meia e só pelo jeito que ele disse alô, eu entendi (eu sempre entendo). Eu disse vem cá e desliguei o telefone e xinguei ele por vinte e cinco minutos até a campainha tocar. Ele que saia com quem ele quiser, mesmo, mas o filho da puta arruma as vadias dele e termina a noite sozinho e fica todo inseguro e deprimido. Aí ele me liga e eu digo vem cá e xingo ele por vinte e cinco minutos, às vezes mais, às vezes menos, eu xingo ele até a campainha tocar.

Você quer pizza, eu perguntei, e ele fez que sim e sentou e comeu tudo o que tinha sobrado, acabando com minhas perspectivas de ter um café da manhã decente. Aí ele limpou a boca na manga e não disse nada e enfiou a mão por baixo da minha blusa e me comeu no sofá sem tirar a roupa e foi embora. Eu fiquei ali, mesmo, e só depois de acordar é que eu me limpei.



Na verdade, eu nem sei por quê eu te conto isso. Acho que é só porque eu tenho alguma coisa pra contar. Eu sei que você acha que é um desabafo, assim como você achou que eu sentia culpa ou o caralho, mas não é.

Eu sei que tem essas minas, que nem essas ricaças que a gente lê, que pagam cinco mil numa calça, dez mil num vestido, e aí vão pra casa de outras ricaças e ninguém tem mais que dezessete anos, mas todo mundo tem o bolso cheio de dinheiro do papai. Aí eles tomam vinho ou sei lá o quê e os meninos misturam êxtase na bebida das meninas, mas é claro que elas sabem. E eles cheiram pó, também, e fumam maconha e, porra, é claro que não é isso que eu to recriminando, porque puta que o pariu, Deus sabe que eu gosto dessas coisas. Que nem no outro dia, que eu fui na casa dos meninos, do Tomás, do Fábio e do Bernardo, e naquela época eu só tinha dado pro Tomás e pro Bernardo, e o Fábio tava louco pra me comer, mas eu tava fazendo doce porque não queria virar a putinha da casa, sabe? Aí eu tava lá e o Fábio vai no quarto e volta com muito, muito pó. Ele bota uma música, abaixa a calça e arma uma carreira em cima do pau duro pra eu cheirar. Cara, que loucura, minha boceta ficou até anestesiada, naquela noite, por causa da cocaína. Depois dali não teve jeito que eu já tinha passado por todos da casa, mas quando alguém chega com o pau cheio de pó, o que você vai fazer?

E as meninas, eu tava falando das meninas. As ricaças. Elas cheiram pó, também, e tomam bebidas batizadas e dão pra todos os amigos ricaços delas e acordam com os vestidos de dez paus cheios de porra que nem sabem de quem é. Isso não tá certo, saca? Dá pra entender a diferença? Não é dar o problema, nem dar pra dois, três, dez na mesma noite, se for o caso. Mas tem que ter... entende? Tem que ter critério. Eu dou porque eu to por cima (sem trocadilho), porque sou eu quem tá mandando ali. O Artur mesmo, ele é um bosta! Ele sabe que ele precisa de mim e é por isso que ele volta, sabe? É por isso que ele volta.



Porra se eu acredito nisso! Eu sei que você acha que eu me deixo usar, ou coisa do tipo. Que eu sou uma puta de merda. Não, não, eu sei. Mas quer saber, cara? Foda-se. Foda-se, mesmo. Eu sei que eu não tenho nenhum problema, que eu não sou só um pedaço de carne pra eles. Qual o problema em curtir um pouco?

E eu nem era sempre assim, se você quer saber. Quando eu resolvi vir pra São Paulo... Puts. Na verdade – e puta merda, você não ia acreditar –, tinha esse cara em Jarinu, o Renato, e ele era tipo meu melhor amigo, tipo essas coisas que a gente vê em filme e pensa puta que o pariu, isso nunca ia acontecer. A gente era amigo desde sei lá, uns cinco ou seis anos. Desde pirra. Mas amigo daqueles que acordam e já se encontram e não desgrudam até a hora de dormir, sabe? Amigo daqueles que brigam toda semana e choram a noite toda e no dia seguinte se encontram todo tímidos só pra ser amigo de novo. Amigo tipo amigo, mesmo.

Quando a gente tinha uns dezesseis, dezessete anos – e a gente nunca tinha namorado, porque acho que as coisas eram diferentes, ou só a gente é que era (e a cidade era pequena, também. Foda.) – aí ele corria atrás de mim na rua e eu fugia rindo e trombava com os pedestres. Ele vinha atrás querendo me pegar mas sem querer de verdade, e a gente dava voltas em pontos de ônibus até que ele me alcançava e me empurrava na grama e a gente se rolava no chão. Eu ria o tempo todo, quando estava com ele, e eu acho que realmente gostava dele. Talvez a gente se amasse, sei lá.

Eu sei que noutro dia (mas isso foi depois, eu já devia ter uns dezoito, foi logo antes de eu me mudar), noutro dia a gente foi na casa dele ver uns filmes e eu queria muito, sabe? Eu tinha dezoito anos e tava começando a me ligar, então eu queria mesmo. Mas a gente assistiu aos três Star Wars em sequência e tomamos muita, cara, muita vodka, mesmo. Ele tava malzão, sim, mas ele virou pra mim e me puxou com força e aquilo foi ruim demais. Eu deixei ele ser egoísta, sim. Eu deixei ele me segurar os braços, forçar minha boca, eu deixei ele tirar a minha roupa naquela noite e é capaz até que ele tenha gostado, mas quando eu fui pra casa dele eu queria muito, e aí ele estragou tudo, meu, ele estragou tudo.

domingo, 18 de abril de 2010

Fim.

Eram 18 horas do primeiro sábado e ele estava deitado na cama com os braços e as pernas esticados e afastados do corpo. Desde que acordou, ele estava assim, olhando para o teto meio que sem acreditar que era sábado e ele estava assim. O telefone não tinha tocado nenhuma vez.

Nem ia tocar.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Tão bonitinha (??/??/2008)

Minha segunda esposa casou comigo muito nova, pouco depois de eu ficar viúvo. Alguns amigos tiveram medo de que ela não estivesse pronta, ainda, e outros tentaram me convencer de que a diferença de idade seria um empecilho – mas destes logo me afastei, porque odeio gente antiquada e entendo que alguns moralismos não fazem sentido nem do ponto de vista científico nem do religioso. Um dia, eles verão.
No entanto, e isso é importante destacar, outros valores são a única forma de nos adequarmos à Palavra do Pai e ao Sacrifício do Filho, apesar de essa sociedade parecer não ligar ara isso, enquanto segue esse caminho de perversão – e perdição – infinitas. Mas não eu!
Eu sempre prezei – e prezo – pela moral e a ética e o respeito por esse tipo de coisa e principalmente pela Bíblia e o que fala o pastor. (Mas claro, não a ponto de deixar de casar de novo, porque, como disse, odeio ideias antiquadas e descabidas.) E por isso eu ensinei minha nova esposa (minha esposa nova, minha nova esposa) de acordo com princípios que podem parecer duros, mas que me valeram para provar que meus amigos (os alguns, não os outros) estavam errados.
Sim, porque não tinham se passado nem mesmo dois meses desde o casamento, e ela já estava igualzinha à outra, à falecida. Me obedecia quietinha, quietinha; me fazia os caprichos e cuidava da casa do mesmo jeito que a antiga; e olha que eu gosto de tudo bem arrumadinho! e ela se sentava já com a postura perfeita do lado da TV até eu cansar de assistir e ela nunca saía de casa, que nem a outra.
E foi até melhor do que eu esperava, porque precisou de só uma surra – se bem que bem dada – para parar de me contrariar na frente dos outros. E também, como minha antiga esposa, nunca perguntou praonde eu ia, quando eu saía, nem praonde eu fora, quando voltava.
Mas semelhança maior, mesmo, era à noite, na cama, quando ela se encolhia toda ao meu lado, tão bonitinha!, e chorava bem baixinho pra não me acordar.

Todas as histórias que ele escrevia eram iguais.

Um dia ele se ajoelhou na cadeira e olhou a chuva e quis morrer, de tanto que doía, mas ficou só ali, olhando a chuva e pensando que em algum lugar da noite ela talvez estivesse olhando de volta.
Mas isso foi um dia e agora ele estava ainda mais sozinho, porque sabia para onde ela olhava e sabia que ela olharia de volta, mas não estava chovendo e ele não estava na cadeira e ele tinha saudade de quando doía. Era estranho, isso, mas tudo o que ele queria era chorar.
Só que todas as histórias são autobiográficas e todas as histórias que ele escrevia eram iguais.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Pequenos deuses

Acho que quando a gente é pequeno (não necessariamente em tamanho, não necessariamente em idade), a gente faz isso, assim, de olhar para algumas pessoas que podem ser nosso pai ou nossa mãe ou os mamonas assassinas e achar que eles são só aquilo que a gente tá vendo (que é o que a gente quer ver), que eles são a imagem que a gente faz deles. Eu achei que crescer era quando você percebe que eles erram, que eles fazem coisas que você também faz e não quer que eles saibam, sei lá, que usaram drogas, que deram pra desconhecidos ou pior, que decepcionaram alguém.

Crescer é quando você percebe que não importa.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Eu caibo numa caixa de sabão em pó,

numa cadeira de avião, numa mesa de prova. Eu caibo numa história de amor.
São 22 horas (sem dormir!) e eu caibo em mim.
Olhem para aquele cara fingindo que não gosta de elogios, fingindo que gosta, fingindo que não sabe do quê. Olhem lá como ele inventa uma dor e dez problemas.
Olhem como ele finge que é literatura.

Cristo olha ao redor e vê que os romanos são homens fantasiados, vê que a coroa é de isopor, vê que os pregos são de borracha. É só puxar o braço, ele pensa e se ri dos outros, é só dobrar as pernas e pular para fora daqui, ele pensa e ri sozinho enquanto as forças se vão, enquanto ele morre na cruz.
E essa é a verdade que você não quis ouvir, meu rei, essa é a verdade sobre o masoquismo e sobre o amor, sobre mim e nós e todo mundo.
Olhem como ele finge que é literatura.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Ele é para ela como todas aquelas coisas sonhadas em noites claras, como todos aqueles devaneios nas horas das aulas ou do trabalho, ele é seu contrário perfeito e é todas as coisas que ela gostaria de ser se tivesse coragem o bastante de admitir que odiava sua vida. Ele saí à noite e bebe e usa e vive coisas que ela nem sabe direito imaginar e por isso mesmo é que imagina tão lindas. Ele beija outros meninos, mas também meninas, às vezes, ou não beija ninguém e só se encosta em algum lugar e toca gaita e dorme no parapeito do prédio.
E porque ele é tudo isso é que ela o odeia tanto e ela se sente mal por odiá-lo, porque acha que é tudo um mix de inveja com hipocrisia, quando na verdade é apenas extremamente decepcionante ver o resultado da realização de seus sonhos e perceber o quão idiota é tudo aquilo.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Eu só posso ser machista porque

Eles não querem ela lá. Eles não querem ela assim. Não que nem eles, porque... Ela é ela, não pode. Quando ela senta assim, com as pernas assim, quando ela quer uma lata a mais, quando ela quer um trago, um tiro, quando ela quer um beijo e uma mão e algo mais, eles dizem que não, eles fazem cara, eles tomam a lata e o trago e o tiro, eles beijam as outras.

E eles dizem que ela não é assim, que ela não quer assim e riem quando vão embora e se sabem heróis.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Escuro

Eu não queria fechar a janela por causa do calor, mas a chuva já começava a cair dentro do meu quarto chovia em mim. Cansado de me cansar, levantei e fui para o quintal me molhar propriamente: havia uma mureta ao lado do jardim e de lá se podia recostar na grama. Era um lugar tão perfeito para se deitar à noite acendendo um cigarro e vendo as estrelas que eu imitei a pose mesmo com as nuvens e a chuva. Ademais, eu não fumava e nem fumo. Naquele tempo, a noite podia bem ser clara ou ser de dia, importava mais era que fosse rica e esta era, então eu me juntei ao escuro (que era) e eu era uma sombra, uma pedra, algum bicho do mato.

Eu sei, ela disse de repente e meus olhos assombraram abertos. Faz tempo já que eu sei.

Antes de saber que eu havia tomado uma decisão, eu decidi não me mexer, decidi continuar ali, escuro contra escuro, só olhos e ouvido e a chuva que caía em mim. Por que ela estava ali fora? Teria fugido do calor como eu ou se assustado com alguma borboleta-barata-marimbondo em seu quarto ou precisava de tanto ar para dizer aquilo que nem a chuva a assustou? Ele, eu sabia, estava lá porque ela também estava e ele sentia medo. Dela ou de ficar longe dela.

Eu, ele disse, mas se interrompeu. É.

E então ela estava chorando e apertando os braços dele e, como eu não podia me mexer, demorei um pouco para perceber que era um abraço. Ela o xingou e disse que o odiava e já então eu adivinhava sua mão lhe roçando a barba, seus lábios tremendo em direção aos dele. Laura, laura, ele disse e ela cuspiu filho da putas e canalhas quando livrava a língua da dele, quando recuperava o fôlego do esforço de o puxar para si.

Eu queria levantar, eu queria ir embora e não ter visto nada daquilo, mas o silêncio da noite me trairia assim como os traiu e os outros dois vieram, também. Alex viu as lágrimas e os tremores de ambos e os abraçou e disse que tudo bem, calma, calma. Laura se deixou ir com ele e gustavo fez que ia, também, mas se demorou um pouco e os deixou entrar na casa enquanto ele mesmo ficava para trás junto com joana.

Seu imbecil, ela disse quando achou que os outros dois já estavam lá dentro. Seu completo imbecil, como você me faz uma merda dessas? Como você deixou ela saber? Ela batia nele e ao contrário da outra, não intercalava aos tapas beijos e quando o apertava era para afastar. Depois, respirou: você acha que ela vai falar pra ele?

Não. A certeza dele a acalmou e ela o chamou de imbecil ainda uma vez enquanto entrava. Por fim, gustavo lançou um olhar perdido (talvez para uma sombra, uma pedra, um bicho que tivesse visto no mato) e os seguiu e eu fechei os olhos de novo, escuro contra escuro, e não senti nada além da chuva no rosto.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Pequenas Verdades, 2

"Maria Luísa", ela respondeu e eu definitivamente não comentei o fato de ser o mesmo nome de uma prima. Ou então eu falei "vamos pra praia", porque em Porto Seguro as festas são assim, na areia, e a gente sentou e viu a lua no mar e falamos disso. Depois, nada mais atrapalhou, ninguém mais.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Pequenas Verdades, 1

Eu tinha quatro anos naquela vez em que fui ao shopping com meus avós. E tinha uma concha. Eu não lembro bem por quê, mas acho que isso é importante: tinha uma concha.
E o que aconteceu depois foi exatamente isto: caiu um plástico (acho que embrulhava a concha) no chão, bem perto do corrimão, e eu fui pegar, porque eu sou mesmo o tipo de cara que não deixa o plástico no chão. Aí que o corrimão me puxou e minha mão entrou no vão entre ele e o chão e eu só posso imaginar a gritaria, o atrito da borracha, meu avô se jogando no chão, as pessoas olhando sem entender etc, mas eu tenho a queimadura para me lembrar. E quando alguém me pergunta o que é isso na minha mão, eu posso contar essa história e dizer: eu não tive culpa.