sábado, 26 de fevereiro de 2011

Você está longe,

ainda. Isso me irrita e eu tenho minutos finitos para te trazer – são muitos, mas são minutos e nossos minutos acabam. Você não me entende ou não quer entender, e diz que é muito cedo ou que é muito tarde, mas que diferença faz? São minutos, só. Então eu vacilo, eu avanço devagar ou eu volto ou eu te pergunto o que fazer, mas você não faz nada. Tempo. No fim, tudo se resume a isso, a aproveitar a hora certa, a não se adiantar ou, muito pior, se atrasar demais.
Mas o problema não sou eu, é? É você. Que não me entende. Que, às vezes, me entende demais, o que prova seu não entendimento, porque se não fosse isso, saberia que eu não quero tanta compreensão.
Se tudo der certo (a gente sempre tem que assumir que tudo vai dar certo, não importa como), eu tenho tanto, tanto tempo pela frente – nós temos. Então, por que tanta pressa? Mas é difícil ser feliz hoje em dia, não é? Como você pode ser feliz, como eu posso ser feliz, se o tempo todo a gente é inundado pela felicidade alheia que se atira nos orkuts (eu insisto no orkut para que você veja como o tempo é), facebooks, twitters. Como eu posso ser tão feliz quanto um álbum de fotos no facebook? Simples: eu não posso, então eu fico sem fôlego, acho que nossos minutos são finitos e que nós precisamos fazer alguma coisa a respeito antes que seja tarde, antes que seja tarde demais.
Você também pensa nisso? Você também se pergunta se sua saúde está piorando a cada segundo? Você também para às vezes e pensa que provavelmente (mesmo que tudo corra bem) você nunca vai participar de uma orgia, nunca vai ter um membro devorado por um crocodilo, nunca vai descobrir uma ruína babilônica, nunca vai se afogar em Atlântida, nunca vai dar um autógrafo, nunca vai compor uma sinfonia, nunca vai ter as cordas vocais substituídas por sintetizadores, nunca vai ser comprimida contra o centro gravitacional de um buraco negro, nunca vai ser reconhecida como verdadeira autora de Sagarana?
Bem, eu penso. Eu penso nisso o tempo todo.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A verdade que ninguém nos disse

Depois do almoço, como umas frutas. Um pêssego, uma pêra. Olho pra ela e me vejo: ter vinte e três anos é que nem uma pêra perfeitamente doce. É o sofrimento infinito de ver um filme excepcionalmente bom, é a dor inigualável do sujeito que recebe um Nobel. O problema não é que amanhã a pêra será menos boa, não é o medo de que a sequência decepcione, não é a falta que faz um objetivo que nos motive. É o gozo, mesmo, que dói, o gozo de saber que aquilo ali é uma pêra e é a melhor coisa do mundo.
Com 16 anos que era bom, era horrível o tempo inteiro. A gente (a gente sou eu, claro) se queimava, se jogava, a gente desejava um ônibus passando em cima da gente. A gente sonhava acordado e escrevia coisas idiotas (o leitor deve ser capaz de perceber nisso uma piada) e elas não eram idiotas porque estávamos de fato nos afogando naquilo tudo, nelas, neles, nos ônibus que não nos atropelavam, na ideia vaga e errada de que por toda a vida sofreríamos daquele jeito.
Quem choraria uma pêra?

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sei lá

Hoje eu estava, sei lá, no metrô e estava lendo e tinha essa menina do meu lado que estava lendo, também (o meu livro, por cima do meu ombro como que pra ver o que é ou provavelmente estranhando ele ser em inglês ou talvez se perguntando por quê eu estava lendo ou especificamente por quê eu estava lendo em inglês ou ainda por quê eu estava lendo em inglês e não olhando de volta pra ela, se ela era bonita e olhava pra mim e pro meu livro).
(E eu não estava olhando porque namoro ou porque estava lendo e nem percebi até a hora em que o trem parou na estação que eu ia descer e eu levantei e vi que ela via.)
E eu tive uma conversa depois e pensei enquanto andava na rua (ou eu estava vendo que dava pra ver o Cruzeiro, ou eu estava cantando qualquer coisa) e eu quis escrever assim:

“Ela estava olhando pra mim quando eu levantei e eu fui embora pra casa ou eu voltei sentei do lado dela e disse Oi, quer tomar um café ou uma cerveja, ou melhor ainda, eu disse Hi, I'm British (sem nem precisar ser muito bom com o sotaque), I'm kinda lost here, could you give me a hand?, ou melhor ainda ainda, Hi, I'm dutch, my english is not that good and I do not speak portuguese, but...”

, e assim por diante e o texto ia chamar Our Possible Presents, talvez porque estivesse tocando Pink Floyd no celular, talvez porque as coisas sejam assim, mesmo, infinitas não em passados (como na música) nem em futuros, mas em presentes, que só existem quando a gente conversa ou vê o Cruzeiro ou escreve.
Mas aí você me diz que não consegue mais, que não acredita mais, e que caralho, porra, escrever pra esquecer uma parte do vazio, assim como sorrir para esquecer uma parte do vazio, assim como olhar no chão para reinvindincarn um pouco do vazio de volta para ele. [É comum, pra ele, exagerar na grafia das palavras que titubeia: reivindicar, por exemplo, foi vítima d'um duplipensar [não] ("se escreve assim e se escreve assim"), então ele simplesmente exagera e coloca todos os n's que deveriam estar lá, e faz o mesmo com qualquer palavra que traga algum tipo de dificuldade, ainda que temporária. "Não" pode ser "NnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnñaO!", "muimto", "ágora" et caeoetera].

Bem. Sei lá.

Eu acredito em você.