sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Garanhão

 Ah, você se acha tão melhor, só porque não tem rédeas, ou sela, ou cela, porque corre solto, porque é o único que consegue aproveitar o sombreado e as goiabas de uma goiabeira e olhar o céu, e é claro que os demais no celeiro parecem animais burros, ignorantes, incultos, querendo dormir, só, ou falar de qualquer futilidade e depois, lá, ardendo no sol. Você olha com desdém e tenta ensiná-los — ensiná-los! — alguma coisa, mas são burros, mesmo, ou não querem aprender. E então você se irrita, cercado de cavalos, jegues e bois, porque você, meu amigo — você tem uma alma!  

    Mas fique você sabendo [tom acusador] que outro dia eu vi uma mulher que acordava mais cedo que as outras e fazia pão e bolo e café e os vendia na saída do trem. E aquilo sim é que era poesia. 

Nenhum comentário: