quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Feminismo

Quero ser vista como objeto. De estudo. Manuseada, degradada, tudo. Quero um homem, quero dois, quero tantos!, quero entregar-me sem pensar em medo ou em prantos e deixar que façam o que quiserem, e deixar que se refestelem, e que se revezem. Quero vê-los, satisfeitos, darem-me as costas e deixarem-me nua, suja; sua.

Quero ser usada, abusada. Que é uma forma de idolatria.

domingo, 16 de novembro de 2008

A diferença

Sexo é ela perdendo o fôlego e se remexendo e ele todo mãos e língua e tudo. É ele mais que dentro, junto, e é um esforço altruísta mesmo. É ela cravando unhas e engolindo em seco, e finalmente... Masturbação é o que vem depois.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Café

O café é amargo e, saído da máquina, péssimo. Mesmo assim, você toma, você gosta. Eu me pergunto quando vou tomar coragem e levantar e beber as últimas gotas desse café. Direto da sua boca. Às vezes, imagino que já teria feito isso, sim, não teria problema nenhum, medo nenhum. Levantaria daqui do fundo da cantina de onde te vejo, chegaria na sua mesa e não diria nada, como nunca disse. Só beberia o café da sua boca e perderia toda a aula de química tentando colher cada gota. É, e não vai pensando que eu teria medo, não, ou vergonha ou sei lá, pudor. Já teria feito isso tudo há muito é tempo.
Só que o café é amargo e, saído da máquina, péssimo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Nanos

Nano,
Nano, um pedaço de pano
É menos pano (que uma toalha)?
Se for rápida, se indolor,
Morre a morte menos morrida?
Dói o corpo mais que a ferida?
A água de um rio é mais sentida
Que uma lágrima?

domingo, 9 de novembro de 2008

Pela Janela

O trem da linha A é rápido e confortável. Margeando as principais avenidas da cidade, ele leva sempre executivos com suas pastas e maletas e seus celulares sempre nos ouvidos em conversas envolvendo números e nomes. Os vagões têm ar condicionado, música ambiente e mesinhas para os notebooks, e ninguém nunca nunca vai de pé. A linha A não faz conexão com outras linhas, mas deixa cada um deles na frente de suas casas e há, é claro, os canapés durante o percurso.
    Todos os dias, os executivos pegam o trem pela manhã e trabalham silenciosos durante o percurso; depois descem todos em frente aos seus escritórios, ou aos escritórios de seus clientes, e voltam a embarcar sempre no final do expediente, que pode ser às 20h, às 21h ou somente no dia seguinte. De qualquer forma, não perdiam a pose, e em tantos anos, Gustavo nunca havia visto alguém no trem que não vestisse um terno caro; exceto às sextas-feiras.
    Gustavo costumava passar uma hora no trem, contando a ida para o trabalho, a volta para casa e todos os serviços que precisava realizar fora do escritório. Como não podia desperdiçar esse tempo, acostumou-se a sentar-se e logo abrir o laptop, aproveitando-se da internet Wi Fi que o trem disponibilizava aos que pagavam uma pequena tarifa, e valendo-se sempre de uma máquina de cafés providencialmente instalada. Ele havia decidido adotar o hábito de ligar o notebook, iniciar conexão com a internet e pegar o café enquanto tudo se inicializava, para potencializar o tempo, mas logo viu que a idéia não valia: de tão boa, era compartilhada por todos os que entravam na mesma estação, de tal forma que formava-se uma inconveniente fila à frente da máquina de café. O tempo que se perdia era enorme.
    Assim, acostumou-se a pegar o café antes de entrar, ligar o computador e usar o tempo de inicialização para adoçar o café e mesmo tomá-lo. Depois, simplesmente ignorava tudo e todos e seu mundo era um só e seus dedos eram rápidos, e as planilhas e o trem iam e iam.
 
    Nesse dia, em particular -- era quinta, e era novembro --, porém, sentou-se sem pegar o café e cinco minutos já se haviam passado e sequer ligara o notebook. Teria percebido isso de um susto, e levantado atrás do líquido com o Windows já rodando, fosse esse outro dia, mas não era. Não era, e Gustavo apenas virou-se para a esquerda, onde seu ombro se apoiava na parede do vagão.
    Foi assim, por cansaço, que notou o outro, que também não trabalhava. Ele tinha o notebook aberto sobre a mesinha, o Excel ligado, mas encontrava-se absorto em outros pensamentos, porque sequer tocava o teclado. Foi com real espanto que Gustavo notou que ele olhava pela janela.
    Inicialmente, Gustavo sequer havia reparado que havia janelas no vagão. Elas não eram muito grandes e, de qualquer forma, não havia muito para que se olhar do lado de fora. O rapaz, porém, olhava com grande atenção, arregalando os olhos, até. Embora lhe parecesse inadequado, Gustavo não pôde conter-se, e acabou pousando a mão sobre o ombro do homem ao seu lado. Tendo-lhe chamado a atenção, indicou silenciosamente o comportamento do outro. Imediatamente, Gustavo sentiu-se completamente envergonhado e ridículo, importunando assim um completo desconhecido.
    No entanto, o homem não pareceu incomodado, mas sim igualmente surpreso com a conduta do rapaz de olhos vidrados na janela. Ao invés de queixar-se pelo trabalho interrompido e o tempo e concentração perdidos, ele tocou o braço do homem à sua frente e também apontou com a cabeça para o jovem observador. Ali, iniciou-se uma verdadeira comoção, cada um denunciando a atitude estranha para o vizinho de assento. Em meio ao burburinho, Gustavo ouviu traduzidas as palavras que lhe ocorriam na mente:
    --Em todo esse tempo, nunca vi ninguém olhando para a janela! -- Era uma voz contida.
    E, embora todos falassem baixo, o som acabou por chegar aos ouvidos do rapaz que, enfim, desviou os olhos da janela, um tanto atônito, vendo que todos olhavam para ele. Por fim, talvez julgando que merecessem uma explicação, dirigiu-se aos demais passageiros:
    --Por Deus, com que olheiras eu estou!

domingo, 2 de novembro de 2008

Sem nome

Eu cheguei em casa e as luzes estavam apagadas, e no nosso -- no meu quarto, somente as minhas coisas, e foi muito triste eu não ter chorado.