Se tivesse que pintar-se, pintar-se-ia o Artista qual cavaleiro ou qual florista, mais alto do que belo, mais belo do que forte; dar-se-lhe-ia roupas do medievo e um aspecto — de que sorte? Imponente?, intrigante?, inteligente, certamente. Quando andava assobiava, canário, e ria-se e via-se que seguia sem destino nem caminho, que o mundo lhe era cenário, tão somente — dele não era parte; apenas retratava-lhe a Arte.
Subia a rua o Artista, o olhar clínico, o pincel cínico na mão e um faro que o levava para onde a Arte poderia estar, e parou na praça, sabendo que ia pintar. Amarrou o cachorro, montou o tripé e começou o trabalho. Ao seu redor, uma mulher com os filhos, um vendedor de qualquer coisa, velhinhos, um baralho, as coisas de sempre.
E era aí que estava seu diferencial, era isso que lhe dava a maiúscula, era esse seu dom de olhar e enxergar o que queria, e podia ser um canto de algum pássaro ou de algum prédio, sempre havia alguma coisa que lhe apontava algo mais no dia a dia, onde outro qualquer, nada veria. Então, pintou pelo resto da tarde, e nenhum dos presentes reconheceu a paisagem pintada e julgaram-no louco, porque nenhum via a Arte que ele retratava. Viam nos prédios, pedras; nos pássaros, penas, apenas. Porque vazios, viam vida, e era pouco.
E era aí que estava seu diferencial, era isso que lhe dava a maiúscula, era esse seu dom de olhar e enxergar o que queria, e podia ser um canto de algum pássaro ou de algum prédio, sempre havia alguma coisa que lhe apontava algo mais no dia a dia, onde outro qualquer, nada veria. Então, pintou pelo resto da tarde, e nenhum dos presentes reconheceu a paisagem pintada e julgaram-no louco, porque nenhum via a Arte que ele retratava. Viam nos prédios, pedras; nos pássaros, penas, apenas. Porque vazios, viam vida, e era pouco.