terça-feira, 26 de maio de 2009

Um post demasiado bunda-mole

A bala é um comprimido de metal não maior do que um dedal rodopiando. O furo é menor do que uma moeda de 10 centavos; se você não soubesse, nem notaria. Atrás é que o impacto faz o estrago maior e são crânio, miolo, sangue na parede.
Sangue na minha boca, sempre gostei do sabor, mas agora... Sinto vontade de compartilhar com você. Você percebe, é claro, e me beija para sentir o gosto também, mas acho que não é só isso, talvez seja essa sua mania de concluir as coisas, talvez você só queira dar um beijo que sabe ser o último.

Esse sou eu, obviamente antes. Você ainda não está lá, mas não deve demorar. Veja: eu manobro o barco e desço no cais e lá está você, próxima ao muro, meio escondida, porque somos só nós dois, sempre só nós dois, desde que tínhamos o quê? Dez, onze anos? Não mais do que isso.
Na época eu achava que me doía ver você tão sozinha, tendo que deixar sua família por mim. Pensando agora, acho que eu nunca me senti culpado de verdade. Você sabe que nós nunca tivemos por quê nos desculpar, e na época eu acho que a minha raiva de tudo ainda não havia se desenvolvido tanto, eu acho que as coisas entre nós eram maravilhosas demais para eu perceber. Por isso é que foi só quando as coisas se radicalizaram, quando os do nosso tipo passaram a ser perseguidos (e nçao só histilizados), só então é que nossa história começou.
Eu me lembro de ficar bravo porque você sempre foi mais criticada do que eu, só porque eles achavam que você não havia nascido assim, havia escolhido depois, por minha causa. Como se isso fosse coisa que se escolha! Eu me inconformava, você se lembra, eu achava odioso, e agora, quem diria?, você vem e me mostra que não, que foi melhor eles terem pensado assim! Que pelo menos um de nós pode se salvar e basta que ninguém jamais descubra que, por essa sua teimosia besta, você decidiu me dar um último beijo, ainda com a arma quente na mão.

Nenhum comentário: