sexta-feira, 10 de julho de 2009

A confissão de que amava,

a sabedoria de que morria daquele jeito, aos poucos, que é como todos morremos. Olhava, não mentia, se agarrava a tudo como podia, bebia a vida, à vida, mas só porque sabia que aquilo não poderia se prolongar por muito tempo. (Se pudesse, teria sido o mesmo?) nunca quis responder, só sabia que amava e que seu coração era capaz de se apaixonar novamente, embora a cabeça talvez não pudesse, talvez lhe dissesse Morre.

– Qual o crime de todo homem? Por que é mesmo que estamos aqui? --

Havia juntado a todos naquele quarto infinito, estava sentado na mesma cadeira em que sempre se sentara, estava vestido com o mesmo rosto que sempre lhe estampara, e foi então que anunciou que estava morto há duas semanas, que seu pulmão não funcionava, que seu coração explodira, que sua carne apodrecesse.

Passado o desconforto inicial, os presentes lhe lançaram as mais variadas perguntas, chocados, todos tão humanos quanto ele mesmo e igualmente cegos ao que realmente se passava com ele(s). Por que, então? Como, afinal? O que há do lado de lá?, mas ele não sabia, como nunca soube o que há do lado de cá.

Era saber que nunca mais veria aqueles rostos, que seu peito provavelmente ainda doeria algumas tantas vezes, era voltar para o começo de tudo e querer somente ter a certeza de que fizera de tudo para se machucar.

Um comentário:

Anônimo disse...

cara, adoro o jeito que vc escreve, o jeito que conduz a narrativa de um jeito "tanto faz mesmo". Parece que você nem faz questão de contar isso, sei lá, que conta por desprezo, por saber que é melhor do que todo mundo que vai ler. Tudo o que vc já leu está fundido aí, nesse seu jeito tão maravilhoso e repulsivo de escrever.
sei lá. sei lá!