quarta-feira, 13 de julho de 2011

Quando tudo mais tiver acabado (não exatamente porque as coisas se esgotem, mas porque são esquecidas, são ignoradas e porque, no fim, todas as pessoas do mundo acabam por fazer algum tipo de desconstrução descartiana e pensar que as coisas, como nossas certezas, são menos sólidas que um peido), eu gosto de acreditar que eu continuarei esperando. Porque todos os segundos de todos os dias, tudo acaba e sobro eu – com medo, claro, e sem nenhuma paciência, mas quase inteiro, quase firme, esperando.

Nem que, de vez em quando, eu precise juntar as mãos sobre as orelhas e fingir o mar; nem que eu precise criar riscos idiotas – é a pressa, é a pressa –; nem que eu corra, o tempo todo, ainda que não tenha para onde ir e ainda que seja justamente da falta de direção que eu corra; não importa. Essas coisas, aguenta-se: corro, mas fico por aqui.

E se tomasse um café? Não precisa ser um café, é claro, alguma coisa qualquer que me tomasse as perguntas, que diminuísse a tristeza preguiçosa de estar triste? Fazem bem os analgésicos? Os antidepressivos? Os remédios em geral? Fazem, fazem, ou devem fazer, mas por que eu sinto que minto com um bem-estar que não é meu, ou que não deveria ser? – afinal, não merecemos mais sorrisos na vida do que lágrimas e não deve ser Correto renegarmos assim uma porcentagem tão grande das experiências que se nos destinam. Isso tudo é só mentira, embora não seja pouco. (Como eu minto, também, quando mudo de eu-literatura para eu-direito ou apenas eu-profissional, porque como é que a gente pode não mentir quando se precisa ser sério e tudo o que se quer é destruir o mundo inteiro, um monstro de cada vez?) (É diferente com o álcool, eu me engano num brado, porque o álcool não me tira o sono ou a tristeza ou a alegria; no máximo, mos ampliam.) Não, não, melhor faço se seguro tudo como vier, ainda que isso acabe comigo, é claro. Melhor, até, que acabe comigo. Corro, mas fico por aqui.

Aliás, por aqui e esperando; que o que me falta em paciência, me sobra em esperança.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Fere-as

Volta e meia eu tenho vontade de fumar, também, de deixar pra lá meus pulmões, minha asma, e também não é que eu tenha alguma curiosidade em particular quanto ao cigarro em si, ou quanto aos efeitos dele (relaxamento? queda de apetite?), mas às vezes eu tenho muita, muita, muita vontade de falar pra alguém Com licença, vou lá fora acender um cigarro, e aí sair e tomar um ar, sabe?, claro que sabe, esquece, porque você não pode simplesmente falar Vou lá tomar uma cerveja no meio do expediente, pode?, não pode e nem teria o mesmo estilo, eu acho, de eu colocar pra tocar Rock’n’Roll Suicide, que tem tudo a ver, também, né?, e aí iria fazendo conforme a música, You pull on a finger, then another finger, then your cigarette, wowowow, e ficaria ao vento, eu e o cigarro, por um, dois minutos, é estranho eu querer isso? Seria melhor, até, se eu não precisasse do cigarro.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Férias

Não adianta se mudar para a praia. Isso não iria mudar as coisas, não iria resolver o problema. Não é o caso de procurar uma outra realidade e se atirar a ela para sempre até que você tenha uma nova rotina, um novo tipo de cansaço de espírito, talvez, mas um espírito cansado de qualquer maneira. Não confundam, amigos, sair da mesmice com transformar algo diferente em convencional. (E que se fodam as revoluções.)



Melhor do que trabalhar com algo de que se gosta, acho, é trabalhar para algo de que se gosta, é dizer todo dia Isto é temporário, é só até eu conseguir ******. Etc. Usar a rotina para a rotina, meu Deus, isso sim é que é triste. Juntar dinheiro para construir um lar, para ter as coisas de que precisamos sempre ou até (ouve-se por aí) para começar um negócio próprio, cruzes, é de atolar a pessoa, mesmo, é de destruir um serumano. Trabalhar pra ir embora, isso sim faz algum sentido. Contanto que se volte, sempre, porque não voltar é como não ter ido.