terça-feira, 25 de setembro de 2012

Você não me deixa chegar mais perto. Acho que faz bem, não sei, a proximidade também pode ser uma arma para você, não pode? É claro que pode, uma arma apontada para mim, bem mais do que para você. Mas a distância é pior e você me mantém longe.
Longe e sem saber o que fazer.
A música volta e eu tiro outro par, me perguntando com quem você está dançando, contra quem você se debruça, em que ombros estão suas mãos etc. Tem coisa mais ridícula do que isso? Evidentemente que não, mas a dança é esta, todo mundo dança, nós também dançamos.
Dançar! Como é que se pode dançar? Sorrir! Beber, comer, conversar etc. Quem suporta uma coisa dessas? Dançamos, a luz vacila e eu penso que poderia ser você, à minha frente: estas mãos, este algodão, este ofegar. Poderiam ser você e eu não teria como saber, neste escuro piscante. Talvez você tenha vindo devagar e em silêncio (mas não seria preciso muito silêncio, afinal de contas), deixado o outro rapaz sozinho e se colocado discretamente no lugar da minha garota. Sem que eu percebesse, você teria segurado meus ombros, ajeitado minhas mãos na sua cintura, sussurrado qualquer coisa no meu ouvido, sabendo que eu não ouviria.
De repente, eu consigo sentir a largura do seu quadril, o ritmo mais rápido de balançar, a intimidade maior com que suas mãos seguram minha nuca. Eu também me solto mais, te prendo mais, já quase nos abraçamos. Sinto seu rosto no meu. Seu cheiro.
Isso pode significar muitas coisas. Pode ser que você me tenha perdoado ou que encontrou um jeito melhor de me punir. (Imagine só as coisas em que vou pensar amanhã de manhã!) Pode significar outras muitas danças, ou pode ser que seja a última. (Dançar adeus.) Francamente, não sei se me importo. Na verdade, não consigo me obrigar a pensar nestas coisas, porque minha mente desvia sempre para você.
Por mais que eu tente levantar questionamentos, portanto, não consigo afastar a certeza de que tudo vai dar certo. De que vamos resolver tudo, de que vamos nos entender. Eu não sinto nenhum rancor na forma como você se mexe junto a mim, então eu sei. De repente, eu entendo que tudo o que se passou é de uma pequeneza, de uma insignificância... Não é nada que se compare a você ou a nós. Eu me sinto ridículo por ter levado tudo tão a sério. Por ter duvidado da gente. Problemas, todo casal tem, é óbvio, mas e daí? Já nem me lembro mesmo por quê brigamos...
Fecho meus olhos, deixo você me levar. Daqui para a frente, será sempre assim. Outras músicas vão tocar. Teremos tanto tempo...
Mas esta música acaba. No intervalo curto antes de a próxima tocar, as luzes se acendem e eu vejo um vislumbre rápido seu. A garota, ainda nos meus braços, parece ter gostado de mim; pergunta se eu quero dançar a próxima, também. Dançar! Como é que se pode dançar?

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mar, 14


No primeiro dia, não pude resistir à tentação de ir ter com a moça sentada no cais. Me aproximei dela, sentei também e passei algum tempo em silêncio, ouvindo as ondas. Nas pedras abaixo, um carangueijo carregava um tufo de algas para um buraco, mas era atrapalhado pelo agito do mar. Acima, uma fragata ainda rondava, embora o sol já tivesse baixado e a noite em breve cobriria tudo.
Passados alguns minutos, me dirigi à mulher. Se chamava Maria e era mesmo portuguesa (até então, suspeitávamos). Falava com sotaque forte. A princípio, parecia avessa à ideia de conversarmos, mas acabou se abrindo e, então, achei que não fosse parar de falar.