ele sentia as pernas bambearem enquanto esperava, sentado na sala vazia. Havia cinco canetas (três azuis, uma preta e uma vermelha), uma lapiseira com a logomarca da empresa, uma borracha usada até a metade, três clipes (um dos quais, torto), um grampeador industrial, dois blocos de post-it e um caderno velho espalhados sobre a mesa. Havia cento e quarenta e três formas de ligar todos esses objetos utilizando-se de menos de dez linhas retas, cinquenta e oito figuras geométricas podiam ser formadas usando-os como vértices e Fernando tinha quase certeza de que uma delas era praticamente um octágono regular.
Além disso, havia o computador (com manchas pretas sobre o plástico branco, uma das quais lembrando uma visão em perfil do Getúlio Vargas), a cadeira do outro lado da mesa, a pequena palmeira com quatro folhas bem abertas (quase o mesmo tom de verde da borracha meio-usada), uma réplica de algum quadro de Miró em uma moldura preta de extremo mal gosto, e uma plaquinha com o nome do chefe colocada sobre a porta.
Que abriu.
Ah, oi, espero que não tenha esperado muito, disse o chefe do nome na plaquinha e Fernando não se importaria em esperar mais um dia ou dois, mais a vida inteira. Agora, tinha que falar. Vinte e cinco anos. Completados naquele dia. Bodas de prata com a empresa e só agora ele se sentava na cadeira em frente ao chefe com as mãos suando e as pernas bambeando e a cabeça contando coisas, calculando contas, criando catetos e – eu estou me demitindo, ele disse de uma vez e o resto da conversa foi o chefe quem levou.
No começo, ele gostava, mesmo, ou achava que gostava do que fazia na empresa e agora já não saberia dizer quanto tempo fazia que estava ali só por medo de dizer tchau. E bênção.
No fim, não foi tão difícil e ele aproveitou o ensejo para dizer ao colega com quem dividia a sala que também nunca mais voltaria ao clube de leitura aos sábados, que também disso se demitia. Enquanto se divertia com os olhares perplexos de todos, ajeitou as últimas coisas que tinha sobre a mesa, colocando-as na mochila e desceu pelo elevador e saiu pela porta da frente e entrou no estacionamento do outro lado da rua pela última vez. Pela primeira vez em anos quis colocar alto o volume do rádio e abriu a janela porque quis sentir o vento.
Antes de chegar em casa, ainda passou no clube e na academia e no curso de italiano e cancelou sua matrícula em todos esses lugares. Mesmo assim, ainda eram cinco horas da tarde quando chegou em casa e ele não podia aguentar de ansiedade para dizer a sua esposa, de forma que teve que dirigir até o escritório dela no centro e foi lá mesmo que terminou o casamento. De lá, dirigiu sabe lá Deus para onde, e os boatos de que teria se matado só terminaram quando um conhecido o fotografou sem querer durante uma viagem às Bahamas.
Além disso, havia o computador (com manchas pretas sobre o plástico branco, uma das quais lembrando uma visão em perfil do Getúlio Vargas), a cadeira do outro lado da mesa, a pequena palmeira com quatro folhas bem abertas (quase o mesmo tom de verde da borracha meio-usada), uma réplica de algum quadro de Miró em uma moldura preta de extremo mal gosto, e uma plaquinha com o nome do chefe colocada sobre a porta.
Que abriu.
Ah, oi, espero que não tenha esperado muito, disse o chefe do nome na plaquinha e Fernando não se importaria em esperar mais um dia ou dois, mais a vida inteira. Agora, tinha que falar. Vinte e cinco anos. Completados naquele dia. Bodas de prata com a empresa e só agora ele se sentava na cadeira em frente ao chefe com as mãos suando e as pernas bambeando e a cabeça contando coisas, calculando contas, criando catetos e – eu estou me demitindo, ele disse de uma vez e o resto da conversa foi o chefe quem levou.
No começo, ele gostava, mesmo, ou achava que gostava do que fazia na empresa e agora já não saberia dizer quanto tempo fazia que estava ali só por medo de dizer tchau. E bênção.
No fim, não foi tão difícil e ele aproveitou o ensejo para dizer ao colega com quem dividia a sala que também nunca mais voltaria ao clube de leitura aos sábados, que também disso se demitia. Enquanto se divertia com os olhares perplexos de todos, ajeitou as últimas coisas que tinha sobre a mesa, colocando-as na mochila e desceu pelo elevador e saiu pela porta da frente e entrou no estacionamento do outro lado da rua pela última vez. Pela primeira vez em anos quis colocar alto o volume do rádio e abriu a janela porque quis sentir o vento.
Antes de chegar em casa, ainda passou no clube e na academia e no curso de italiano e cancelou sua matrícula em todos esses lugares. Mesmo assim, ainda eram cinco horas da tarde quando chegou em casa e ele não podia aguentar de ansiedade para dizer a sua esposa, de forma que teve que dirigir até o escritório dela no centro e foi lá mesmo que terminou o casamento. De lá, dirigiu sabe lá Deus para onde, e os boatos de que teria se matado só terminaram quando um conhecido o fotografou sem querer durante uma viagem às Bahamas.
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