Acho que é igual com todo mundo, não sei. É claro que as pessoas querem sexo, mas elas também querem apoiar a cabeça no ombro de alguém, ter uma mão para segurar, ter um corpo pra apertar. Eu também queria, mas até aquele momento eu nunca tinha percebido que era daquele jeito. Achar que alguém gosta de homem ou de mulher ou do que quer que seja por causa de orientação sexual me parece uma ideia absurda desde aquele momento. Então, eu passei as mãos nos seus cabelos pretos e limpei um pouco de terra do rosto dela e fiquei me perguntando o que eu faria pelo resto da minha vida.
Acabou que eu passei uns anos sem saber o que fazer. Ela passou, vieram outras e eu me lembro de mim mesma trancada no meu quarto rindo, chorando, gritando quieta. Um dia, quando eu senti que não dava mais, eu abri a porta do quarto e corri pra sala quase sem respirar e chamei a minha mãe.
Eu sou diferente, eu disse pra ela. Acho que eu nunca vou poder deixar de ser.
Minha mãe me olhou com uma cara que dizia tudo, balançou a cabeça e disse que claro que eu era, que todo mundo sabia, mas que agora ela queria mesmo assistir àquele programa, se eu não me incomodava. Eu voltei pro meu quarto em silêncio e me lembro de ter dormido no chão.
Um comentário:
Achei particularmente bonito, do ponto de vista estético, o "gritando quieta". Bem... lírico. (?)
Postar um comentário