quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Escuro

Eu não queria fechar a janela por causa do calor, mas a chuva já começava a cair dentro do meu quarto chovia em mim. Cansado de me cansar, levantei e fui para o quintal me molhar propriamente: havia uma mureta ao lado do jardim e de lá se podia recostar na grama. Era um lugar tão perfeito para se deitar à noite acendendo um cigarro e vendo as estrelas que eu imitei a pose mesmo com as nuvens e a chuva. Ademais, eu não fumava e nem fumo. Naquele tempo, a noite podia bem ser clara ou ser de dia, importava mais era que fosse rica e esta era, então eu me juntei ao escuro (que era) e eu era uma sombra, uma pedra, algum bicho do mato.

Eu sei, ela disse de repente e meus olhos assombraram abertos. Faz tempo já que eu sei.

Antes de saber que eu havia tomado uma decisão, eu decidi não me mexer, decidi continuar ali, escuro contra escuro, só olhos e ouvido e a chuva que caía em mim. Por que ela estava ali fora? Teria fugido do calor como eu ou se assustado com alguma borboleta-barata-marimbondo em seu quarto ou precisava de tanto ar para dizer aquilo que nem a chuva a assustou? Ele, eu sabia, estava lá porque ela também estava e ele sentia medo. Dela ou de ficar longe dela.

Eu, ele disse, mas se interrompeu. É.

E então ela estava chorando e apertando os braços dele e, como eu não podia me mexer, demorei um pouco para perceber que era um abraço. Ela o xingou e disse que o odiava e já então eu adivinhava sua mão lhe roçando a barba, seus lábios tremendo em direção aos dele. Laura, laura, ele disse e ela cuspiu filho da putas e canalhas quando livrava a língua da dele, quando recuperava o fôlego do esforço de o puxar para si.

Eu queria levantar, eu queria ir embora e não ter visto nada daquilo, mas o silêncio da noite me trairia assim como os traiu e os outros dois vieram, também. Alex viu as lágrimas e os tremores de ambos e os abraçou e disse que tudo bem, calma, calma. Laura se deixou ir com ele e gustavo fez que ia, também, mas se demorou um pouco e os deixou entrar na casa enquanto ele mesmo ficava para trás junto com joana.

Seu imbecil, ela disse quando achou que os outros dois já estavam lá dentro. Seu completo imbecil, como você me faz uma merda dessas? Como você deixou ela saber? Ela batia nele e ao contrário da outra, não intercalava aos tapas beijos e quando o apertava era para afastar. Depois, respirou: você acha que ela vai falar pra ele?

Não. A certeza dele a acalmou e ela o chamou de imbecil ainda uma vez enquanto entrava. Por fim, gustavo lançou um olhar perdido (talvez para uma sombra, uma pedra, um bicho que tivesse visto no mato) e os seguiu e eu fechei os olhos de novo, escuro contra escuro, e não senti nada além da chuva no rosto.

4 comentários:

Arodasi Onahlap disse...

e ela estava no escuro. Não via nada além de seus pés tocando aquele chão frio que dava até arrepios. Não tinha saída.

Arodasi Onahlap disse...

não sabia como fugir. suas tentativas de escapar eram em vão, assim como suas meras lembranças de um passado assombroso iam se desfalcando no meio de medo e frio. Ah! como a solidão era prazerosa, me levava até a achar que estivesse sonhando,

Mourão disse...

q/

Arodasi Onahlap disse...

fragmento de um texto que escrevi com 12 anos