segunda-feira, 28 de maio de 2012

Mar, 1

Apesar de tudo, eu nunca vi o mar como um amigo. Era algo diferente, como um animal selvagem que alguém tivesse domado. Eu conhecia o mar, sabia lidar com ele e, sim, eu chegava mesmo a confiar no mar. Mesmo quando mergulhava com tubarões, moreias, baleias --- e não foram poucas essas ocasiões ---, nunca era exatamente medo o que eu sentia: era mais a consciência avassaladora da grandeza do mundo e da absoluta impossibilidade de lutar contra ele. Era admiração, mais que qualquer outra coisa. Mesmo quando eu passava semanas em embarcações pouco confiáveis, com tripulações que mal falavam a minha língua, ou quando era jogado pelas ondas sob tempestades ou na ocasião em que navegamos para o sul e ficamos presos no gelo e só víamos o branco da névoa, eu nunca, nem mesmo uma vez, olhei para o mar com rancor.
Mas é claro que eu conhecia os ditados. No fundo, não havia diferença entre mim e os pescadores cubanos com quem tantas vezes tomei rum. Assim, eu sabia tanto quanto eles que o mar deve ser amado, mas respeitado. O mar dá, eles diziam, e o mar tira.
Por isso, eu seguia navegando e mergulhando e eu amava o mar acima de qualquer coisa, mas eu nunca perdi o respeito por ele. Eu abraçava tudo o que o mar me dava e reconhecia o quanto ele era generoso comigo. E eu esperava pelo dia em que ele me tiraria algo em troca.

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