Apesar
de tudo, eu nunca vi o mar como um amigo. Era algo diferente, como um
animal selvagem que alguém tivesse domado. Eu conhecia o mar, sabia
lidar com ele e, sim, eu chegava mesmo a confiar no mar. Mesmo quando
mergulhava com tubarões, moreias, baleias --- e não foram poucas
essas ocasiões ---, nunca era exatamente medo o que eu sentia: era
mais a consciência avassaladora da grandeza do mundo e da absoluta
impossibilidade de lutar contra ele. Era admiração, mais que
qualquer outra coisa. Mesmo quando eu passava semanas em embarcações
pouco confiáveis, com tripulações que mal falavam a minha língua,
ou quando era jogado pelas ondas sob tempestades ou na ocasião em
que navegamos para o sul e ficamos presos no gelo e só víamos o
branco da névoa, eu nunca, nem mesmo uma vez, olhei para o mar com
rancor.
Mas
é claro que eu conhecia os ditados. No fundo, não havia diferença
entre mim e os pescadores cubanos com quem tantas vezes tomei rum.
Assim, eu sabia tanto quanto eles que o mar deve ser amado, mas
respeitado. O mar dá, eles diziam, e o mar tira.
Por
isso, eu seguia navegando e mergulhando e eu amava o mar acima de
qualquer coisa, mas eu nunca perdi o respeito por ele. Eu abraçava
tudo o que o mar me dava e reconhecia o quanto ele era generoso
comigo. E eu esperava pelo dia em que ele me tiraria algo em troca.
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