segunda-feira, 14 de março de 2011

O amor em tempos de internet

Até que um dia, o e-mail não chegou. Deu quarta, quinta, sexta e nada. Ele esperou o fim de semana acabar tentando segurar a ansiedade, mas a segunda-feira também não trouxe nada. Mais dois, três dias – será que valia a pena escrever de novo, reiterar o que dissera dias antes, supor que houvesse ocorrido algum problema nos POP, SMTP ou o que for? Tanto fazia: ela não respondeu mais.
Queria poder achá-la no tuíter, facebook, messengers, qualquer coisa, mas só a conhecia por nick, o e-mail não trazia nada no google, não tinham conhecidos em comum. Tudo o que havia era um histórico de trocas de e-mail e agora uma pergunta sem resposta, uma espera sem fim, um rompimento quieto.
Silêncio, silêncio, silêncio: todas as possibilidades do mundo. Nos primeiros dias, podia ser que fosse uma viagem. Mas duas, três semanas e...
Teria morrido? Podia bem ser, afinal, pra sumir assim, depois de tanto tempo, tantas... promessas? Ele se endireitou. Certamente, era possível. E sendo, convinha chorar. Mas e se não fosse? Seria ridículo chorar a morte de alguém porque a tal pessoa mudou seu e-mail ou porque foi pega pelo filtro anti-spam ou porque está sem internet em casa por qualquer razão.
Ou não seria? Que diferença faria para ele saber que ela estava viva? Aliás, saber que Maria qualquer coisa, ou Renata de não sei o quê (ou, talvez, e igualmente irrelevante, Daniel Feitosa de Lins) estava viva, porque ela, mesmo, aquele nick retirado de um seriado japonês, aquela personalidade meio inconstante, às vezes esquecida de como costumava camuflar sua escrita, às vezes mais sincera do que deveria, ela estava morta e enterrada e continuaria assim enquanto não enviasse um e-mail novo.
Se se está disposto a chorar a morte de um eu virtual (digamos) assim, era melhor estar pronto para fazê-lo de verdade, e não fingi-lo para chorar a eventual morte de seu avatar de carne e osso. Devia, portanto, chorar, ficar aborrecido por alguns dias, usar do luto etc. Também convinha que aquele a chorar fosse seu nick, seu e-mail etc e não o ele ali, plantado em frente ao computador, alt-tabeando o navegador e algum dos jogos pré-instalados no sistema operacional.

E de repente, estamos todos cantarolando qualquer coisa e chorando o fim dos endereços IPv4 e comemorando o uso de hexadecimais.

2 comentários:

Cidadão ³ disse...

QUE FIM HEIN.

Mourão disse...

Devia haver mais alguma coisa antes do último parágrafo, mas após meses, eu não pensei em nada, então resolvi deixar assim mesmo.