sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Tenebrosa, assombrosa e espantosa caçada ao querido líder

Samuel Matias correu para trás de um pilar e sentiu a bala passar zunindo a poucos centímetros de seu braço esquerdo. Sem olhar, ele disparou três tiros na direção de origem da bala itinerante e continuou em direção a um corredor escuro. À sua frente, Najibah segurava uma pistola com a mão esquerda enquanto estancava um sangramento com a mão direita e fazia toc-toc-toc com a perna de pau.

Eles estavam juntos havia três semanas. Ao longo deste tempo, Samuel realizou cento e oitenta e nove tentativas de fuga, todas elas resultando em sua inexorável captura e em demonstrações convincentes, por parte de Najibah, de que enfrentar norte-coreanos armados era uma perspectiva menos dolorosa do que continuar tentando fugir (Samuel tinha, no fim das contas, alguma dificuldade para assimilar conceitos), de forma que agora ele já não procurava mais por portas nos quartéis-generais inimigos que lembrassem saídas de serviço.
Ao invés disso, ele seguia Najibah, dando-lhe cobertura e matando centenas de norte-coreanos todos os dias, o que, no mais, também não lhe era muito menos divertido do que sobrevoar povoados despejando ferro sobre camponeses. Durante estes vinte dias, eles haviam invadido quase trinta postos militares, matado todas as pessoas lá dentro e (em geral, mas nem sempre, antes) conseguido informações que os levassem mais perto de finalmente encararem Kim Jong-Il frente a frente.
Agora, ambos corriam em mais um desses quartéis, Najibah empenhada em seguir em frente e Samuel preocupado em mantê-los vivos. Najibah fez uma curva repentina, entrando em uma sala grande, com dezenas de militares, que Samuel eliminou com apenas quatro disparos. Najibah olhou para ele e sorriu, deixando-o pensativo enquanto seguiam em frente, abrindo a última sala inexplorada.
Espere, ela disse, quando ele entrou com a arma a postos. Na sala, havia apenas uma mesa de madeira escura, atrás da qual estava sentado um homem rotundo, suado, de olhos expremidos e respiração nervosa.
Precisamos chegar a Kim Jong-Il, disse Najibah, indicativa.
Não me matem!, disse o homem, imperativo.
Talvez não o matemos, disse Samuel, subjuntivo (e também mentiroso), se você colaborar.
Está bem, está bem (começavam a se repetir), disse o homem. Eu os levo até ele.
Najibah ficou atônita por algum tempo. Nos leva até ele?, perguntou. Você não vai nos dar uma dica em forma de charada ou coisa do tipo, como tem ocorrido até agora? Vai realmente nos levar até ele?
O homem, que, por praticidade narrativa, adianto se chamar Park, praguejou diante de sua falta de criatividade, mas confirmou: Sim, levo.
Erguendo-se, Park empurrou a mesa e revelou um alçapão.
De fato, disse, Kim Jong-Il se encontra a poucos minutos daqui.

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