Quando eu era pequena, eu gostava de ficar na casa da minha avó.
Era uma casa grande, mas boa para crianças pequenas (e eu sei disso porque eu era uma criança pequena). Então, eu ficava lá.
A casa tinha uma sala grande, uma cozinha grande.
Ou eu era pequena.
Mas tinha um cano de ferro verde que descia desde o andar de cima e a gente (mas só gente pequena) (e só quando ninguém estava olhando) usava para subir até o andar de cima.
Tinha uma escada, também.
Mas eu subia sempre (que ninguém estava olhando) pelo cano. Porque as gentes grandes subiam pela escada e eu era pequena e gostava mesmo era de subir pelo cano verde. E chegando lá em cima, no segundo andar, tinha a grade da janela e um muro. E o muro era perto da janela. E a janela era perto do cano de ferro verde. Então a gente subia no cano verde. E depois na janela. E depois no muro. E a janela também era verde, mas o muro era branco (mas não muito branco, porque a gente subia nele).
De lá, dava pra ir andando até o outro lado. O outro fim do muro, porque um muro tem dois lados e dois fins. Mas a gente não fazia isso.
Não.
A gente se esticava toda em cima do muro e apoiava o pé na grade da janela (que ficava perto do muro) e pisava ao mesmo tempo que puxava com a mão. Assim a gente conseguia subir no telhado da casa. Em cima da janela e do muro e do cano verde. E do segundo andar e do primeiro e das pessoas lá dentro. E a gente, que era pequena, ficava mais alta que todo mundo. A gente ficava mais alta que a minha avó e todas as outras gentes grandes.
E a gente gostava disso.
E a gente era eu.
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