Ao longo dos dias, somos submetidos a uma série
de procedimentos e exames que parecem indicar um certo sadismo em
nossos carcereiros. Às vezes, chego a julgar que não estejamos
isolados por causa da doença, mas de algum experimento sociológico
de extremo mau-gosto.
Uma vez por semana, por exemplo, somos forçados a
usar um uniforme especial. Não fazemos nenhuma atividade excepcional
que justifique essa mudança, mas aqueles que se esquecem e vestem o
uniforme habitual são retaliados pelo engano. Em outras ocasiões,
fazem-nos passar horas seguidas numa ou noutra posição. De tempos
em tempos, talvez por se sentirem entediados, dão-nos objetos para
carregar, levando-os de um carcereiro a outro apenas para termos de
levá-los de volta depois. Ou então, marcam, obedecendo a critérios
obscuros ou a critério algum, determinados prisioneiros e nos fazem
venerá-los por alguns dias, como se fossem heróis ou divindades.
Nada impede, porém, que essas pessoas seja posteriormente execradas
pelos mesmos carcereiros que as selecionaram.
Além disso, durante
uma hora por dia, todos os dias, somos incentivados a conversar com
outros cativos sobre nossas vidas anteriores, fora daquelas celas. É
comum que, nessas horas, nossos carcereiros venham até nós e nos
perguntem o que faremos no dia --- segundo eles, próximo --- de
nossa libertação. Os outros presos parecem acreditar piamente nas
promessas de indulto, de forma que respondem animados e fazem planos
e dizem coisas como “Não vejo a hora”.
Não quero, porém,
soar estoico. Eu mesmo mal posso esperar pelo dia em que me deixarão
voltar para você.
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