A portuguesa terminou sua história e imediatamente retornou ao silêncio
de antes, olhando calmamente para o mar distante, embora a noite já
tivesse se fechado, impedindo que se visse qualquer coisa. Durante algum
tempo, eu não pude fazer mais do que acompanhá-la, mudo, enquanto
pensava no que ela me havia dito. Eu havia escutado a tudo com grande
naturalidade e, mesmo depois, não duvidava de nada. Imagino, é claro,
que a coisa toda pareça absurda a quem lê este diário, mas qualquer um
que ouvisse a história da boca de Maria saberia que aquela só podia ser a
verdade.
Na verdade, naquele momento, eu sequer sentia haver razão para
estranhamento. Apenas levantei-me, portanto, e saí arrastando os pés em
direção à casa em que estava hospedado, ouvindo o ruído das ondas e
pensando na enorme tristeza que me havia dominado.
No dia seguinte, quando o sol se pôs, quis me distanciar das ruas por
onde costumava passear e deixei que meus pés cuidassem de me levar para
onde bem entendessem. Havia tanto de extraordinário naquela ilha que eu
me sentia seguro de que, fosse aonde fosse, acabaria por me deparar com
algo que me valesse a noite. E não havia andado por mais de quinze
minutos quando algo me chamou a atenção.
Alguns metros à minha frente, dois homens tentavam consolar um terceiro,
que urrava aos prantos. Este se contorcia, gritava e dava murros no
chão, num desconsolo absolutamente teatral, mas a situação ganhava ares
cômicos, mesmo, pelo fato de o chorão ser um homem gigante, decerto
acima dos dois metros de altura e não muito menor de ombro a ombro.
Seu rosto enorme parecia uma ilha, perdido em meio às ondas de seus
cabelos compridos e barba desgrenhada, e ele repetia insistentemente as
mesmas palavras, que mais tarde descobri serem um nome: Maud Thyra.
Como não entendesse o que ele dizia, me aproximei de um dos homens que o
acodiam e que falava um inglês curioso, mas razoavelmente
compreensível. Perguntei por quê o homem chorava, e ele me disse que
esse espetáculo tragicômico se repetia todos os anos, no equinócio.
A resposta, é claro, apenas aumentou minha curiosidade, de forma que o
pressionei para que falasse mais. O sujeito não apresentou muita
resistência. Sentou-se em um muro e, balançando alegremente as pernas,
contou-me a história do grandalhão.
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