O
enigma se desenrola com uma falta de pressa enervante, os elementos se
repetindo e se somando num ritmo quase desanimador, mas eu, pouco habilitado ao trabalho de detetive (em que pesem as experiências
acumuladas em anos de má prática do ofício), ainda me excito com
essa caça de pistas como se refletissem de fato aquilo que vemos nos
filmes, que em duas horas nos conduzem da crise à captura inexorável
no final. Ademais, sou um jogador.
O
termo engana porque jogos são comumente associados ao lazer e à
diversão, o que certamente não reflete nada do trabalho que eu
desenvolvo, mas em pelo menos alguns aspectos, é preciso: trata-se
de uma competição, sem a menor sombra de dúvidas, entre mim e o
mistério a ser desvendado, e trata-se de um exercício regido por
regras, também sem dúvidas. Há as regras no sentido mais geral, as
regras legais e sobretudo éticas ou morais que limitam minhas ações,
mas também há as regras próprias do jogo, aparentemente criadas de
improviso por meu oponente que, neste sentido, também já é um
parceiro, num sentido curioso do termo.
E há
uma meta, é claro, porque num jogo, ao contrário de em uma
brincadeira, a parceria não é suficiente: joga-se para ganhar e,
para mim, a única vitória possível é a subjulgação de minha
nêmese, sua captura e aprisionamento até que não haja esperança
de fuga. Vitória para mim virá quando eu alcaçar essa sombra que
persigo e trancafiá-la para sempre atrás de grades.
E
quando isto acontecer, trancarei eu mesmo a fechadura e guardarei eu
mesmo o portão, em vigília absoluta. E nós dois passaremos assim
os anos seguintes, deglutindo em silêncio os espólios da vitória
ou as lições da derrota, conforme o caso, mas de qualquer maneira,
juntos, como parceiros, num sentido curioso do termo.
Um comentário:
meta: a meta.
etc. >.<''
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