Deitei
de barriga para cima e fiquei assim. Minha respiração foi voltando
ao normal aos poucos, minha cabeça foi deixando de rodar e o chão
foi se fazendo sentir mais sólido sob minhas costas. Eu estava vivo.
Depois
de algum tempo, minha boca ficou muito seca, por causa do sal, que
também fazia meu corpo coçar e meus olhos arderem. O sol também me
queimava, de forma que, relutantemente, juntei minhas forças e me
levantei. Estava na praia, mas não havia mais que uns poucos metros
de areia e, ao meu redor, só via pedras e o mar. À minha esquerda,
havia o penhasco: um chapado de seis ou sete metros de altura que me
separava do acampamento. Eu teria que dar um jeito de voltar pra lá,
mas de cara percebi que escalar o morro não seria uma opção: ele era íngreme, a rocha parecia pouco confiável e eu estava em
frangalhos. Nadar ao redor do rochedo também estava descartado. O
mar já havia deixado bem claro que não estava para brincadeiras e
eu sabia bem que não devia abusar da sorte. Restava, portanto,
caminhar ao redor do morro, até encontrar um caminho por onde
passar.
Foi
o que fiz, ou o que comecei a fazer, já que nem bem havia andado
duzentos metros quando um jipe se aproximou, espalhando poeira por
toda a parte e parando ao meu lado. Chacoalhava tanto que parecia a
ponto de desmontar e soltava uma fumaça escura que me deixou um
pouco ressentido: me aborrecia ver um veículo a diesel circulando em
meio a um paraíso selvagem como aquele. No entanto, uma voz feminina
me perguntou num português cheio de sotaque se eu estava perdido e
eu engoli minhas críticas àquele carro e respondi que não estava
extamente perdido, mas que uma carona seria muito benvinda.
Anos
depois, eu ainda me lembraria de como o mar me havia jogado naquela
praia, no lugar e no momento exato para que aquilo acontecesse, e eu
pensaria em tudo o que o mar me dera e em como ele havia sido sempre
generoso comigo.
Um comentário:
O mar dá e o mar tira?
Postar um comentário