terça-feira, 5 de junho de 2012

Mar, 3


Deitei de barriga para cima e fiquei assim. Minha respiração foi voltando ao normal aos poucos, minha cabeça foi deixando de rodar e o chão foi se fazendo sentir mais sólido sob minhas costas. Eu estava vivo.
Depois de algum tempo, minha boca ficou muito seca, por causa do sal, que também fazia meu corpo coçar e meus olhos arderem. O sol também me queimava, de forma que, relutantemente, juntei minhas forças e me levantei. Estava na praia, mas não havia mais que uns poucos metros de areia e, ao meu redor, só via pedras e o mar. À minha esquerda, havia o penhasco: um chapado de seis ou sete metros de altura que me separava do acampamento. Eu teria que dar um jeito de voltar pra lá, mas de cara percebi que escalar o morro não seria uma opção: ele era íngreme, a rocha parecia pouco confiável e eu estava em frangalhos. Nadar ao redor do rochedo também estava descartado. O mar já havia deixado bem claro que não estava para brincadeiras e eu sabia bem que não devia abusar da sorte. Restava, portanto, caminhar ao redor do morro, até encontrar um caminho por onde passar.
Foi o que fiz, ou o que comecei a fazer, já que nem bem havia andado duzentos metros quando um jipe se aproximou, espalhando poeira por toda a parte e parando ao meu lado. Chacoalhava tanto que parecia a ponto de desmontar e soltava uma fumaça escura que me deixou um pouco ressentido: me aborrecia ver um veículo a diesel circulando em meio a um paraíso selvagem como aquele. No entanto, uma voz feminina me perguntou num português cheio de sotaque se eu estava perdido e eu engoli minhas críticas àquele carro e respondi que não estava extamente perdido, mas que uma carona seria muito benvinda.
Anos depois, eu ainda me lembraria de como o mar me havia jogado naquela praia, no lugar e no momento exato para que aquilo acontecesse, e eu pensaria em tudo o que o mar me dera e em como ele havia sido sempre generoso comigo.

Um comentário:

Hiro disse...

O mar dá e o mar tira?