segunda-feira, 25 de junho de 2012

Mar, 5

Nos primeiros anos, rodamos o mundo juntos. Fotografamos ruínas submersas ao sul da Itália e navios naufragados na Nova Zelândia, publicamos um artigo sobre a migração de sardinhas ao sul da Índia, ajudamos uma equipe da National Geographic em uma expedição pelos mares árticos e não desgrudamos um do outro por um minuto. Já havia se tornado meu instinto apontar ansioso para qualquer espécime que eu encontrasse em um mergulho, a fim de que Anita pudesse vê-lo também, e já nem me assustava tanto ao sentir, de repente, algo roçando minhas costas, tão acostumado fiquei com os carangueijos e estrelas-do-mar que ela apanhava e punha, sorrateira, em cima de mim.
Quando a pedi em casamento, o fiz debaixo da água em uma viagem a St. Malo, porque não há lugar mais romântico que a França. Estava ajoelhado a seis metros de profundidade e a via distorcida pela lente dos óculos e pelas bolhas que minha respiração soltava. Eu lhe ofereci a aliança, mas, ao invés me oferecer o dedo anelar, ela estendeu o dedão: sinalizando que queria subir à superfície.
Lá, retiramos a máscara e eu estava morrendo de medo. Ela me olhou e me chamou de idiota.
"Eu...", balbuciei.
"Como eu vou falar que sim”, ela perguntou, “embaixo d'água?"
Dois anos depois, veio o Dani.

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