segunda-feira, 18 de junho de 2012

Mar, 4


Maria Anita era uma moçambicana de pais portugueses, pele escura e olhos miúdos, com uma tatuagem de cavalo marinho nas costas que ela quase nunca escondia. Havia passado boa parte da vida em Lisboa, onde terminara a faculdade de biologia semanas antes de voltar à África. Parecia sempre fora de lugar: muito donzela, quando nos acampamentos e muito selvagem, quando na cidade.
Era dela a voz que me chamou do jipe, mas não era ela quem guiava: Sebastião, um preto grande com um enorme sorriso dominava o volante e, como eu logo percebi, o fazia com muito pouca destreza. Os dois estavam fazendo uma pesquisa sobre a vida costeira na região, mas, se é que me disseram o assunto específico do estudo, eu já não me lembro qual era. De todo modo, estavam acampados com mais cinco pessoas a pouco mais de dois quilômetros de minha equipe e insistiram muito para que eu me juntasse a eles naquela noite, para o jantar.
Fomos todos do meu acampamento, levando um violão e duas garrafas de vinho que vínhamos guardando. Sentamos todos no chão, bebemos no gargalo e comemos ensopado direto da cumbuca. Depois, quando alguém começava a dedilhar uma música, Sebastião pediu licença, levantando-se e dizendo que precisava ligar para a esposa. Eu sorri ao ouvir aquilo, entornei um gole de vinho e fui sentar mais perto de Anita.

Um comentário:

Möller disse...

Moçambicana de pais portugueses... ela deveria parecer mais européia, não?