Maria
Anita era uma moçambicana de pais portugueses, pele escura e olhos
miúdos, com uma tatuagem de cavalo marinho nas costas que ela quase
nunca escondia. Havia passado boa parte da vida em Lisboa, onde
terminara a faculdade de biologia semanas antes de voltar à África.
Parecia sempre fora de lugar: muito donzela, quando nos acampamentos
e muito selvagem, quando na cidade.
Era
dela a voz que me chamou do jipe, mas não era ela quem guiava:
Sebastião, um preto grande com um enorme sorriso dominava o volante
e, como eu logo percebi, o fazia com muito pouca destreza. Os dois
estavam fazendo uma pesquisa sobre a vida costeira na região, mas,
se é que me disseram o assunto específico do estudo, eu já não me
lembro qual era. De todo modo, estavam acampados com mais cinco
pessoas a pouco mais de dois quilômetros de minha equipe e
insistiram muito para que eu me juntasse a eles naquela noite, para o
jantar.
Fomos
todos do meu acampamento, levando um violão e duas garrafas de vinho
que vínhamos guardando. Sentamos todos no chão, bebemos no gargalo
e comemos ensopado direto da cumbuca. Depois, quando alguém começava
a dedilhar uma música, Sebastião pediu licença, levantando-se e
dizendo que precisava ligar para a esposa. Eu sorri ao ouvir aquilo,
entornei um gole de vinho e fui sentar mais perto de Anita.
Um comentário:
Moçambicana de pais portugueses... ela deveria parecer mais européia, não?
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