terça-feira, 17 de julho de 2012

Mar, 6


De repente, as coisas ficaram complicadas. O Daniel precisava ir para a escola, precisava de uma casa definitiva e, acima de tudo, precisava dos dois pais vivos. Uma criança simplesmente não combinava com nosso estilo de vida. Ao mesmo tempo, eu também me apavorei. Agora, se o mar viesse me cobrar o que lhe devia, eu teria muito a perder. Então, chamei Anita para uma conversa e expliquei que, a partir de então, as coisas tinham que mudar. A gente precisava se assentar.
Conseguir um emprego na universidade não foi difícil. Tínhamos toneladas de material publicado, indicações de biólogos do mundo todo e conhecimento de sobra sobre a matéria. Dar aulas também foi mais fácil do que eu havia previsto, já que os alunos disputavam a tapas as vagas em minhas aulas e prestavam atenção a cada detalhe do que eu dizia, perguntando sempre por detalhes de minhas viagens e das coisas que eu havia visto. Não havia a emoção de explorar o oceano, mas era um trabalho gratificante e eu era muito bom nele.
Para Anita, porém, não foi tão fácil. Ela tinha igual prestígio entre os alunos, mas não compartilhava do meu entusiasmo com a vida acadêmica. Aborrecia-se com facilidade, perdia a paciência com os alunos mais lentos e, ao chegar em casa, demonstrava um cansaço de dar pena. Era carinhosa e preocupada comigo e com o Dani, mas não era difícil notar que aquela vida não servia pra ela. Não levou muito para eu perceber que acabaria por perdê-la.

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