Aos
dezessete anos, Dani terminou o colegial e eu lhe dei um ano de
folga, para viajar. Ele podia ter ido aos Estados Unidos ou o Canadá,
como a maioria de seus colegas, mas escolheu ir para o Havaí. Lá,
ele faria bicos em restaurantes e bares, mas, essencialmente,
surfaria. Ele me perguntou cheio de timidez se eu concordava com
isso, já quase num tom de desculpas. Minha resposta foi um relato da
ocasião em que eu e a mãe dele havíamos passado três meses em
Honolulu estudando a importância das tartarugas para a cultura
havaiana. Assim, meses depois, ele partiu e eu fiquei sozinho. Era a
primeira vez, desde aquela noite num acampamento em Moçambique, que
eu não tinha ninguém.
Anita
não havia desaparecido; ela aparecia sempre que estava na cidade
para ver Dani e relatar suas últimas viagens. Quando isso acontecia,
saíamos os três para jantar, tomávamos um vinho e ela quase sempre
passava a noite comigo, pelos velhos tempos. Eu não era inocente a
ponto de pensar que ela não tinha seus outros homens, mas em seus
relatos ela sempre tinha a cortesia de não os mencionar.
Mas
naquela noite, quando me deitei e pensei que o Daniel estava em um
avião indo para o outro lado do mundo, eu me senti completa e
irremediavelmente sozinho. O mar dá, eu pensei antes de dormir, e o
mar tira.
Um comentário:
#ficarvelhoé
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