quinta-feira, 19 de julho de 2012

Mar, 7


Aos dezessete anos, Dani terminou o colegial e eu lhe dei um ano de folga, para viajar. Ele podia ter ido aos Estados Unidos ou o Canadá, como a maioria de seus colegas, mas escolheu ir para o Havaí. Lá, ele faria bicos em restaurantes e bares, mas, essencialmente, surfaria. Ele me perguntou cheio de timidez se eu concordava com isso, já quase num tom de desculpas. Minha resposta foi um relato da ocasião em que eu e a mãe dele havíamos passado três meses em Honolulu estudando a importância das tartarugas para a cultura havaiana. Assim, meses depois, ele partiu e eu fiquei sozinho. Era a primeira vez, desde aquela noite num acampamento em Moçambique, que eu não tinha ninguém.
Anita não havia desaparecido; ela aparecia sempre que estava na cidade para ver Dani e relatar suas últimas viagens. Quando isso acontecia, saíamos os três para jantar, tomávamos um vinho e ela quase sempre passava a noite comigo, pelos velhos tempos. Eu não era inocente a ponto de pensar que ela não tinha seus outros homens, mas em seus relatos ela sempre tinha a cortesia de não os mencionar.
Mas naquela noite, quando me deitei e pensei que o Daniel estava em um avião indo para o outro lado do mundo, eu me senti completa e irremediavelmente sozinho. O mar dá, eu pensei antes de dormir, e o mar tira.