No dia seguinte, mais um envelope
me aguardava sobre a mesa. Já pressentindo o que viria, decidi abri-lo
correndo, de uma vez, como quem arranca um curativo. E, lá dentro, encontrei
mais um dedo humano.
Minha colega, curiosa, observava a
tudo isso com atenção. “Outro?”, sussurrou, tapando o bocal do telefone.
Confirmei com um gesto da cabeça e ela rapidamente tomou o envelope com o dedo
de minhas mãos. Dando-me uma piscadela, guardou-o também na gaveta, de onde,
ainda, tirou um pequeno pedaço de papel.
“O que é isso?”, perguntei, mas já
via: era o resultado de uma análise das digitais do outro dedo, que ela
presumivelmente, sabe-se lá graças a quais contatos, havia realizado na noite
anterior. “Leonardo Tostão”, li. “Quem é esse?” Sem largar o telefone, ela
empurrou para minha mesa o envelope em que o dedo havia chegado. Sob remetente,
li o mesmo nome. “Alguém está me mandando o próprio dedo pelos Correios?”,
perguntei.
Ela confirmou. “Hoje, verifico se
este dedo é da mesma pessoa”, disse, afastando o telefone.
“E o que nós faremos?”
“Com o dedo?”
“Sei lá, com tudo isso. Falamos
com a polícia?”
“Não, por que falaríamos?”
“Porque estão nos mandando dedos
por correspondência!”
“E por que a polícia haveria de
querer saber sobre isso?”
“Porque é importante, acho.”
“Que nada. Você sabe quantas
pessoas recebem dedos em envelopes todos os dias? Se você ainda o tivesse
encontrado dentro de uma latinha de Coca-Cola, seria outra coisa...”
“E se for um seqüestro?”
Ela riu de mim, com desdém. “Ora, não seja ridículo. O remetente é o
próprio Léo.”
“Léo?”
“É. Leonardo. Léo.”
“Bem, mas e daí que ele seja o
remetente?”
“ Como ele pode ter seqüestrado a
si mesmo?”
“Isso não quer dizer nada! Como
vamos saber se...”, mas ela me interrompeu: parecia que a pessoa do outro lado
da linha dizia qualquer coisa de importante. Resignado, fiquei em silêncio
enquanto ela guardava o dedo na mesma gaveta, junto com o resultado da análise.
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