quarta-feira, 7 de março de 2012

Dedos, 2


No dia seguinte, mais um envelope me aguardava sobre a mesa. Já pressentindo o que viria, decidi abri-lo correndo, de uma vez, como quem arranca um curativo. E, lá dentro, encontrei mais um dedo humano.
Minha colega, curiosa, observava a tudo isso com atenção. “Outro?”, sussurrou, tapando o bocal do telefone. Confirmei com um gesto da cabeça e ela rapidamente tomou o envelope com o dedo de minhas mãos. Dando-me uma piscadela, guardou-o também na gaveta, de onde, ainda, tirou um pequeno pedaço de papel.
“O que é isso?”, perguntei, mas já via: era o resultado de uma análise das digitais do outro dedo, que ela presumivelmente, sabe-se lá graças a quais contatos, havia realizado na noite anterior. “Leonardo Tostão”, li. “Quem é esse?” Sem largar o telefone, ela empurrou para minha mesa o envelope em que o dedo havia chegado. Sob remetente, li o mesmo nome. “Alguém está me mandando o próprio dedo pelos Correios?”, perguntei.
Ela confirmou. “Hoje, verifico se este dedo é da mesma pessoa”, disse, afastando o telefone.
“E o que nós faremos?”
“Com o dedo?”
“Sei lá, com tudo isso. Falamos com a polícia?”
“Não, por que falaríamos?”
“Porque estão nos mandando dedos por correspondência!”
“E por que a polícia haveria de querer saber sobre isso?”
“Porque é importante, acho.”
“Que nada. Você sabe quantas pessoas recebem dedos em envelopes todos os dias? Se você ainda o tivesse encontrado dentro de uma latinha de Coca-Cola, seria outra coisa...”
“E se for um seqüestro?”
Ela riu de mim, com desdém.  “Ora, não seja ridículo. O remetente é o próprio Léo.”
“Léo?”
“É. Leonardo. Léo.”
“Bem, mas e daí que ele seja o remetente?”
“ Como ele pode ter seqüestrado a si mesmo?”
“Isso não quer dizer nada! Como vamos saber se...”, mas ela me interrompeu: parecia que a pessoa do outro lado da linha dizia qualquer coisa de importante. Resignado, fiquei em silêncio enquanto ela guardava o dedo na mesma gaveta, junto com o resultado da análise.

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