Eu estava em um mercado, ou talvez fosse uma loja de CDs --- provavelmente um mercado, porque eu não compro mais música. Em minha mão esquerda, eu segurava uma sacola (com legumes, talvez?) enquanto esperava na fila do caixa. Uma senhora impossivelmente velha se aproximou de mim devagar, levantou um pouco a cabeça e me perguntou onde ficava qualquer coisa. Não me lembro o quê. Ela tinha uma bengala. Eu sabia onde ficava.
“Ali”, disse.
“Onde?”
“Ali”, repeti. Eu estava apontando claramente para onde ela devia ir, mas ela pareceu confusa. Não sabia para onde ir. Eu olhei na direção indicada, impaciente, e então me enchi de horror e ânsia, meu estômago se contraindo e minha pressão caída.
Meu indicador não estava lá. Havia apenas a minha mão, débil e inútil, estúpida, uma mão em que faltava um dedo --- justamente aquele que deveria indicar a localização dos CDs do Erasmo.
A velhinha se irritou, foi embora, perguntou a outro. Eu não servia mais para dar indicações. As outras pessoas da fila também se afastaram: algumas com repulsa, outras rindo. Apontavam para mim e me humilhavam não apenas com as gargalhadas, mas, principalmente, com o dedo em riste. Saí da loja correndo, deixei minha sacola para trás.
Acordei suado e olhei instintivamente para minhas mãos. O dedo estava lá, mas eu precisava urgentemente falar com minha colega.
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