segunda-feira, 12 de março de 2012

Dedos, 5


Um outro mistério surgiu, nascido diretamente de minhas tentativas de solucionar o anterior: como seria possível que Leonardo Tostão, cujos dedos eram identificados, um após o outro, por minha colega de trabalho, não tivesse o endereço ou o telefone disponíveis em lugar algum? Seu nome não constava da lista telefônica, não trazia perfis em redes sociais, não aparecia em buscas feitas no Google.
Se suas digitais eram identificadas pelas análises que a garota, sabe-se lá como, realizava, então algum registro de sua existência deveria existir em algum banco de dados. No entanto, minhas buscas por ele eram todas inúteis. Por que com ela era diferente? Como não poderia deixar de ser, após algum tempo minhas suspeitas recaíram-se sobre esta colega, que teria grande facilidade em depositar envelopes sobre minha mesa.
Tomado pelo desejo de desvendar o quanto antes o caso, lancei-me sobre sua escrivaninha assim que tive a oportunidade, quando, deixando o telefone, ela foi ao banheiro. Abri a gaveta. Meu coração parou: só havia um envelope, lá.
De repente, as coisas começaram a fazer sentido: a resistência em chamar a polícia, a naturalidade com que recebia diariamente dedos indicadores, a forma como guardava sempre o envelope em sua gaveta --- decerto para poder repetir a brincadeira, no dia seguinte. Senti-me um tonto, por ter acreditado naquilo por tanto tempo. Quantos indicadores mais eu precisaria receber para suspeitar que houvesse algo errado?
E contudo, não fui dominado pela raiva ou por qualquer desejo de vingança. O que mais me preocupava eram justamente os mistérios que continuavam sem resposta: de quem era o indicador? Como minha colega o havia conseguido? Será que ela o arrancara? E, acima de tudo: por que, de todas as pessoas, mandá-lo justamente a mim?

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