rodar con él por la calle y acordar los demás. Me gusta sentirlo mordiscar mis calcañares, chocarse con mis pernas, sentirse tonto porque o es. Me gusta saber que su felicidad es fruto directo de la mi a e que no la senté por motivo ninguno que no sea mi propria alegría e realización. Él nunca es triste si yo no soy triste, él nunca es alegro si yo no lo soy. Me gusta saber que puedo tirarlo de la más completa felicidad; que puedo hacer su rabo parar de abanar para jugarlo en completo desespero simplemente porque así lo quiero, simplemente porque la dore que siento en mi peto es tao grande que extravasa de mi e o atinge también. Me gusta saber ser su dono y su maestre y su señor. Me gusta mi perro, por supuesto.
domingo, 20 de dezembro de 2009
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Conto de cavalaria
O segundo ataque não tardou. Já três noites depois, em um baile, a donzela negou uma dança ao cavaleiro que, embaraçado, teve de simular um riso e alguns passos (e, posteriormente, uma noite de amor) com uma outra senhora que já há algum tempo lhe importunava e que gritava como um casal de gatos, o que só aumentou o desgosto do herói ferido. Os golpes, porém, não cessaram por aí, sucedidos pela hábil intercalação entre dias de indiferença e de olhares calculados, pelas roupas escolhidas a dedo e, finalmente, por três palavras sussurradas em um banquete, tão baixas que Sir Rodrigues se perguntava se realmente teriam sido ditas, enquanto se dirigia para atrás do pátio.
No entanto, tinham, e quando ambos se viram prontos para fazerem-se felizes é que subiram em seus cavalos e despiram-se das cotas e dos elmos e dos escudos e firmaram as mãos em suas lanças e apontaram-nas, enquanto disparavam os animais, para onde mais pudessem machucar.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Citação, 3
(Herbert Viana, Quase Um Segundo)
domingo, 15 de novembro de 2009
Machucado
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Morte presumida
Já a antiga, no Brasil, brigava com a sogra pela casa em Ubatuba.
domingo, 25 de outubro de 2009
Traição
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Saudades (22/03/2008)
De quando usar terno ainda era
Pra dançar, e não rotina
Era 15 anos, aniversário, festa
Ah, que a saudade bate todo dia
Que é porque o tempo vai passando
E claro que a saudade já batia
Mas era só de vez em quando
E até acho que a vida é melhor
Agora do que era antes
Acho que quando se é maior
Já vivemos tantos mais instantes
Que a saudade só pode bater tanto
Por serem tantas as coisas passadas!
E então, temo o dia quando
Viverei de horas idas lamentadas!
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Na verdade,
Acho que é igual com todo mundo, não sei. É claro que as pessoas querem sexo, mas elas também querem apoiar a cabeça no ombro de alguém, ter uma mão para segurar, ter um corpo pra apertar. Eu também queria, mas até aquele momento eu nunca tinha percebido que era daquele jeito. Achar que alguém gosta de homem ou de mulher ou do que quer que seja por causa de orientação sexual me parece uma ideia absurda desde aquele momento. Então, eu passei as mãos nos seus cabelos pretos e limpei um pouco de terra do rosto dela e fiquei me perguntando o que eu faria pelo resto da minha vida.
Acabou que eu passei uns anos sem saber o que fazer. Ela passou, vieram outras e eu me lembro de mim mesma trancada no meu quarto rindo, chorando, gritando quieta. Um dia, quando eu senti que não dava mais, eu abri a porta do quarto e corri pra sala quase sem respirar e chamei a minha mãe.
Eu sou diferente, eu disse pra ela. Acho que eu nunca vou poder deixar de ser.
Minha mãe me olhou com uma cara que dizia tudo, balançou a cabeça e disse que claro que eu era, que todo mundo sabia, mas que agora ela queria mesmo assistir àquele programa, se eu não me incomodava. Eu voltei pro meu quarto em silêncio e me lembro de ter dormido no chão.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Ele sentia a mão suar,
Além disso, havia o computador (com manchas pretas sobre o plástico branco, uma das quais lembrando uma visão em perfil do Getúlio Vargas), a cadeira do outro lado da mesa, a pequena palmeira com quatro folhas bem abertas (quase o mesmo tom de verde da borracha meio-usada), uma réplica de algum quadro de Miró em uma moldura preta de extremo mal gosto, e uma plaquinha com o nome do chefe colocada sobre a porta.
Que abriu.
Ah, oi, espero que não tenha esperado muito, disse o chefe do nome na plaquinha e Fernando não se importaria em esperar mais um dia ou dois, mais a vida inteira. Agora, tinha que falar. Vinte e cinco anos. Completados naquele dia. Bodas de prata com a empresa e só agora ele se sentava na cadeira em frente ao chefe com as mãos suando e as pernas bambeando e a cabeça contando coisas, calculando contas, criando catetos e – eu estou me demitindo, ele disse de uma vez e o resto da conversa foi o chefe quem levou.
No começo, ele gostava, mesmo, ou achava que gostava do que fazia na empresa e agora já não saberia dizer quanto tempo fazia que estava ali só por medo de dizer tchau. E bênção.
No fim, não foi tão difícil e ele aproveitou o ensejo para dizer ao colega com quem dividia a sala que também nunca mais voltaria ao clube de leitura aos sábados, que também disso se demitia. Enquanto se divertia com os olhares perplexos de todos, ajeitou as últimas coisas que tinha sobre a mesa, colocando-as na mochila e desceu pelo elevador e saiu pela porta da frente e entrou no estacionamento do outro lado da rua pela última vez. Pela primeira vez em anos quis colocar alto o volume do rádio e abriu a janela porque quis sentir o vento.
Antes de chegar em casa, ainda passou no clube e na academia e no curso de italiano e cancelou sua matrícula em todos esses lugares. Mesmo assim, ainda eram cinco horas da tarde quando chegou em casa e ele não podia aguentar de ansiedade para dizer a sua esposa, de forma que teve que dirigir até o escritório dela no centro e foi lá mesmo que terminou o casamento. De lá, dirigiu sabe lá Deus para onde, e os boatos de que teria se matado só terminaram quando um conhecido o fotografou sem querer durante uma viagem às Bahamas.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Ela não tinha asas,
Também não era que sua saia fosse curta, era mais a forma como ela andava e as curvas menos se viam que se adivinhavam. Ele ficou parado enquanto ela vinha e lhe sussurrava no ouvido e lhe puxava a gola da camisa.
Ele levaria vinte e cinco anos para entender o que havia acontecido, mas em só cinco minutos já tinha desistido de tentar.
domingo, 6 de setembro de 2009
Eu tinha vinte e sete anos
Passamos vinte e dois dias perfeitos naquele julho, e foi num sábado que marcamos um churrasco no térreo do prédio dele. Eu estava falando com umas amigas sobre qualquer coisa, mas fui buscar uma caipirinha e ouvi ele comentar sobre política com uns colegas de trabalho. Foi quando eu descobri que ele votava no Partido Amarelo.
Durante dezenove anos, nós ficamos juntos – eu sempre tentando evitar assuntos relacionados à política quando estava com ele. Uma hora, simplesmente não deu mais.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Quase era tarde demais
Que crime se compara a não receber um poema?
Fiquei triste porque ela não me viu chorar.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Ela me machucava
sábado, 15 de agosto de 2009
De quantas (...)? [2]
E aí pro parque, na grama que é igual, mas o céu é outro, o vinho é outro, nenhuma estrela é igual. A gente no chão, o mijo na árvore, rindo e cantando.
(Mas tem que ser em inglês, porque senão, ninguém entende.)
E, bom...
E depois voltamos e foi uma merda, porque todo mundo tava meio triste e eram 3h e os primeiros ônibus começavam a sair às 5h. No final, tudo sempre é bom, mas também é sempre pra nunca mais.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Último Favor
Cinco horas depois, conforme ela me contou, eles entravam no mesmo metrô, ou então no estacionamento, porque só agora me ocorre que não perguntei esse detalhe, e estavam de novo lado a lado e ela lhe disse que tinha uma surpresa para o jantar e ainda que ela não tenha querido me contar qual foi a resposta que teve, eu adivinhei que mais tarde, na cama, ela choraria pensando naquilo.
Meia margherita, meia portuguesa. Um vinho tinto chileno, um tocador de acordeon. Oje vita, oje vita mia... Minha Nápoles e Roma, minha Milão e eu equilibrando berinjelas sobre o pão italiano e ela sorrindo triste quando tudo caía às minhas mordidas. Por que eu?
Ela falava, eu só ouvia, que era muito mais fácil continuar amando do que perceber o momento exato em que tudo havia acabado, que era uma injustiça jogar a culpa nos ombros de quem tinha o maior fardo, e eu assentia enquanto rodava a taça na mão e via o rosto dela através do vidro. Porque, ela dizia, também taça-rodeando, todo mundo precisa de... de alguma coisa, sabe? Pra pisar em cima. Eu sabia, acho que eu sabia.
Eu olhava o vermelho cambaleante no copo que ela agora estendia quase acusador, enquanto jogava o cabelo para trás, uma mão passada na testa e um pouco de sardella no canto esquerdo dos lábios pintados. Devo indicar a ela?, talvez estender o guardanapo?, talvez ficar quieto enquanto ela fala? Ela mesma limpa, logo suja de novo. Eu tomo meu vinho e espero minha pizza e penso na minha noite.
Sempre é difícil jantar com pessoas com quem eu não estou acostumado, e ela era irritantemente passiva, embora fosse dela a iniciativa; irritantemente recatada e resolvida a falar de seu marido, embora fosse dela a mão tocando a minha. Ela tinha feito uma surpresa para ele no jantar, mas agora era pizza e agora era eu.
Quando saímos, a noite estava fria. Ela veio pra junto de mim, talvez para se esquentar, e estava mais alegre, então comentávamos rindo das pessoas que passavam com seus cabelos roxos e suas meias calças escandalosas, ou seus vestidos góticos. Subimos a escadaria que levava à rua de trás enquanto um casal gay se divertia, ambos vestidos como noivas e nós fomos a pé, mesmo, para um bar onde uma banda tocava MPB.
Lá eu tentei mudar de assunto, interesses, hobbies, filmes favoritos. Ela respondia e só. Por que porra, eu pensava, ela me chama pra ficar falando do casamento frustrado? Depois de tanto tempo nos limitando a uns ois e boa noites ou a dividir os aparelhos da academia, por que ela me chamaria para sair se não quisesse mais do que lamentar a indiferença do marido? Ela se inclinava para mim, tocava meu braço e olhava nos meus olhos, mas quanto mais ela tentava se aproximar, mais longe dava para ver que ela estava. Pedi outra Original.
Eu nunca o trairia, ela me disse enquanto acenava para o garçom, pedindo mais uma sakerinha. É só que eu o amo demais. Ela parecia desconfortável ali no balcão, mas insistiu em não querer procurar uma mesa.
Agora, mais algumas horas haviam se passado e estávamos em uma boate e ela continuava falando do casamento, mas parecia completamente bêbada. Ela estava linda demais, e eu rodava meu copo vazio, brindando sozinho e em silêncio. Keep still, wait, until... Ela se virou e pôs um dedo na minha boca, eu sentia cheiro de morango e gosto de laranja, eu sentia a música ruim e a vodka, eu tenho certeza de que não teria feito nada se ela não tivesse me olhado chorando e se seu cabelo não fosse tão liso ao toque enquanto eu dizia que não, não, que ia ficar tudo bem.
Tunts tunts, a música batia e ela também, no meio dos meus braços e com o rosto no meu peito. Eu estava perdido no meio da noite, ciente demais das outras pessoas me olhando, ciente demais das lágrimas na minha camisa Armani, ciente demais da pouca importância que eu dava para tudo aquilo enquanto dizia que não era culpa dela, que ele era o culpado, e eu não percebia que quanto mais eu falava isso, mais ela chorava e se espremia contra mim. A sakerinha demorou muito mais do que devia, mas o álcool enfim veio como uma bem vinda fuga de suas complicações conjugais, e eu aproveitei o momento para puxá-la do balcão para a pista de dança.
O resto do tempo que passamos lá foram mais duas sakerinhas e três hi-fis. Ela pagou a parte dela, mas eu segurei a porta aberta enquanto saíamos para a noite, e quando eu pagava o manobrista, pensei que depois daquele abraço molhado, eu não teria como deixá-la ir.
A gente correu na chuva até o carro, rindo, e quando paramos num farol eu pensei que nada daquilo fazia muito sentido, nem eu nem ela nem o vermelho refletido no asfalto, e me lembro de ter cantado junto a música que ela escolheu no rádio. Minha Londres das neblinas finas...
O limpador do para-brisa rodava à toda, as luzes da avenida e dos prédios pareciam um sonho esquisito. Sempre gostei de dirigir de madrugada, de ver as ruas enfim vazias, e de repente tive a ideia de parar num Pão de Açúcar para tomar uma sopa com outras tantas pessoas, tantos cúmplices quando nos beijamos. Eram três e tanto da madrugada daquela quarta-feira e eu ainda sentia gosto de laranja e morango, por cima do caldo de feijão.
Nós, saindo do supermercado entrelaçados, e de novo no carro e depois indo para um motel. Enquanto ela escorregava a calcinha para o meio da canela, enquanto ela descia dos saltos altos e tirava o vestido preto ou enquanto me abraçava e me beijava, eu não reparei no momento em que ela fez a ligação. Quando prontos, porém, ela apertou o botão vermelho do celular e logo depois o aparelho começou a tocar. Eu ouvia gritos do outro lado e via ela chorando em silêncio. Ela tinha o rosto vermelho e encharcado, mas sorriu para mim e me agradeceu quando saiu sozinha do quarto, e aquela foi a última vez em que eu a vi.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
– Ah, os votos que dividimos!
Eles se beijam furiosamente, eles se apoiam um no outro, eles sabem exatamente o que é real.
Uma senhora passa e sorri para eles porque já esteve lá e eles também riem, porque um dia estarão e eles são um e são o mesmo e o serão enquanto a noite e o vinho e a música durarem.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
A confissão de que amava,
– Qual o crime de todo homem? Por que é mesmo que estamos aqui? --
Havia juntado a todos naquele quarto infinito, estava sentado na mesma cadeira em que sempre se sentara, estava vestido com o mesmo rosto que sempre lhe estampara, e foi então que anunciou que estava morto há duas semanas, que seu pulmão não funcionava, que seu coração explodira, que sua carne apodrecesse.
Passado o desconforto inicial, os presentes lhe lançaram as mais variadas perguntas, chocados, todos tão humanos quanto ele mesmo e igualmente cegos ao que realmente se passava com ele(s). Por que, então? Como, afinal? O que há do lado de lá?, mas ele não sabia, como nunca soube o que há do lado de cá.
Era saber que nunca mais veria aqueles rostos, que seu peito provavelmente ainda doeria algumas tantas vezes, era voltar para o começo de tudo e querer somente ter a certeza de que fizera de tudo para se machucar.
Citação (na verdade, não estou citando, só postando, mesmo)
Not a red rose or a satin heart.
I give you an onion.
It is a moon wrapped in brown paper.
It promises light
like the careful undressing of love.
Here.
It will blind you with tears
like a lover.
It will make your reflection
a wobbling photo of grief.
I am trying to be truthful.
Not a cute card or kissogram.
I give you an onion.
Its fierce kiss will stay on your lips,
possessive and faithful
as we are,
for as long as we are.
Take it.
Its platinum loops shrink to a wedding ring,
if you like.
Lethal.
Its scent will cling to your fingers,
cling to your knife.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Seu rosto pintado de vermelho,
Depois, eu ainda penso se faz alguma diferença, enquanto me deixo atar, me deixo levar.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Correntes
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Citação, 2
(Pauline Réage, Histoire d'O)
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Ele sabia que tinha tudo o que queria,
sábado, 6 de junho de 2009
Citação
(Catherine, in Wuthering Heights, de Emily Bronte)
terça-feira, 2 de junho de 2009
Foi Gustavo quem me chamou para morar na república,
Laura e Joana ficaram olhando e não disseram nada, enquanto Alex parecia não ligar para mim, então eu disse oi e o meu nome, e contei da oferta de Gustavo, me surpreendendo quando Alex perguntou se então eu ia morar ali. Ia. Ele assentiu, elas voltaram ao que quer que estivessem fazendo e foi só então que, enquanto levava minhas coisas para um dos quartos, eu me senti em casa.
Eram dois quartos, na casa, então supus com razão que eles eram divididos entre o masculino e o feminino. Ajeitei minhas coisas no quarto que Gustavo até então dividia com Alex e, na falta de uma terceira cama, estendi um lençol sobre um sofá velho, que me seria mais do que suficiente. Experimentei deitar e testar as almofadas, que me pareceram confortáveis o bastante. Depois, quando me levantava, Gustavo entrou, feliz pela minha aparente adaptação à nova casa. Então, ele perguntou o que achei. Respondi um ótimo ótimo e joguei novamente a cabeça para trás, soltando-me sobre o sofá e provando o que dizia. Ele ficou satisfeito, e me chamou para a sala, onde eu finalmente teria uma chance de conversar com meus novos companheiros de casa.
Joana ainda era Joana, ainda era uma pessoa silenciosa e arisca, ainda me olhava com alguma indiferença enquanto costurava alguma coisa. Essa era ela e não era exatamente hostilidade o que ela me direcionava, ao contrário de Alex, que claramente também era ainda Alex, e me evitava abertamente. Laura era quem mais havia mudado e agora falava comigo de forma quase franca, demonstrando um humor muito próximo ao de Gustavo, o que, a essa altura, muito me agradou. Ela pegou um violão e os dois insistiram muito para que Alex o tocasse, então foi logo no primeiro dia que eu formei a imagem que guardaria por todo o tempo que se seguiu como sendo a de meus companheiros: Alex encostado na parede, o violão tocando uma música que eu não conhecia; Joana deitada de bruços com a cabeça apoiada nas mãos e os pés erguidos para o ar; Gustavo abraçando as pernas, sentado; Laura olhando vidrada, quase sem se dar conta de que sorria, e por muito tempo eu me perguntei se era a visão em primeira pessoa o que me impedia de fazer parte da cena.
As tarefas se dividiam, louça num dia, lixo no outro, as despesas, idem, e assim é que vivíamos. Depois que cheguei na casa, que ficava a mais de cem quilômetros de qualquer coisa, mais de um mês se passou antes de eu sair dali para qualquer motivo que não fosse comprar comida, materiais de higiene e qualquer coisa que fosse necessária na casa, mas essas coisas nós comprávamos numa mercearia não tão distante, de forma que ninguém havia ido para a cidade propriamente dita durante todo esse período. Até onde eu podia saber, mesmo antes de minha chegada era assim que viviam e a única ida à cidade de que tomei conhecimento foi a própria viagem de Gustavo, quando de minha chegada. Calcula-se: éramos todos novos e confinados, bebíamos e nos amávamos, tínhamos-nos por irmãos e companheiros.
Durante três semanas, sentávamos no chão da sala e Alex ou eu tocávamos alguma coisa no violão (em geral ele, que era mesmo melhor) e abríamos garrafas de vinho tinto ou de cachaça artesanal, e Laura dançava, e Gustavo dançava e eu dançava. Por fim caíamos, de sono, de bêbados ou de dançar, no chão da sala e lá infinitávamos nossas noites.
Já na primeira semana, percebi que ninguém ali se dedicava a nada que não a convivência. Para conseguir o pouco dinheiro que tínhamos, Joana escrevia poesia, Laura e Gustavo pintavam e Alex compunha modinhas e músicas populares, e as poesias eram nós, as telas eram nós, as músicas eram nós. E eu tinha meu notebook e fazia trabalhos freelancer de design.
Em tudo, acho que éramos assim. Eles eram eles, eu era quase. Inicialmente, achei que Alex havia visto em mim um rival, o que não seria absurdo, embora eu não admitisse à época. Hoje em dia talvez tenha uma ideia melhor do que de fato acontecia, e se for este o caso, afirmo aqui que o receio que ele demonstrava se assemelhava menos à competitividade entre machos do reino animal do que à xenofobia. Eu nunca consegui deixar de ser um estranho, ali, por mais que nenhum de nós se desse conta disso; eu era uma lembrança constante de que havia um mundo lá fora; de que a vida não era só uma casa com vinho e música e artes. Como eu disse anteriormente, não era assim que eu entendia as coisas à época, assim como provavelmente não era essa a interpretação de nenhum dos demais, mas me parece suficientemente verossímil enquanto teoria, e funciona bem como metáfora. Ademais, serve como ligação com as coisas que aconteceriam depois, quando tudo mudou.
Alex ainda se recusava a abrir-se comigo, mas não pôde esconder quando começou a enamorar-se de Joana. Apesar de ter dito, e não menti, que nos amássemos, aquele foi o primeiro envolvimento afetivo, no sentido que talvez outro daria à expressão, entre pessoas da casa. Depois, muita coisa mudou.
Primeiro, tivemos que mudar a organização dos quartos, de forma que Laura passou a ficar comigo e com Gustavo. Essa questão, porém, foi secundária. Depois que passaram a estar juntos, Joana e Alex começaram a frequentar a cidade diariamente.
Como crianças novas demais, os dois demonstravam uma sede enorme de ver tudo quanto havia na noite urbana, ansiavam por ir a cinemas e teatros, a restaurantes e boates e, também como crianças, voltavam para casa à noite escondendo, por meio de relatos incríveis, a frustração por não conseguirem realmente pertencer àquele meio. Sim, adianto-me às adivinhações que decerto surgem da forma como dispus os fatos, e confirmo que me senti vingado quando percebi a forma como Alex e Joana agora se sentiam frente ao mundo que se lhes impunha. Ouso dizer mais: que foi desse meu sentimento de vingança que começou a nascer minha atual compreensão da minha situação estrangeira na casa, e não errará quem estipular que eu aproveitei os novos fatos para tentar reverter minha condição.
Foi quando soubemos, por meio dos aparentemente entusiasmados Alex e Joana, que haveria na cidade uma festa noturna de rua, uma espécie de carnaval fora de época. Animados com a recente euforia metropolitana de Alex e Joana, Gustavo e Laura se interessaram em participar da festa, o que gerou uma situação quase conveniente demais para que pusesse em prática meus planos de aumento de popularidade e intimidade com meus companheiros.
Foi estranho pisar novamente nas ruas esburacadas, nas calçadas tortas. Foi estranho estar novamente entre milhares, ao invés de cinco. A cidade ainda era linda. Imaginar aqueles jovens outrora reclusos se movendo pelas ruas escuras, pelas calçadas esburacadas e pelos corredores abarrotados de gente, imaginá-los entrando em bares, desviando-se de automóveis, trombando com desconhecidos, imaginá-los usando banheiros químicos e dançando ao som de trios elétrios, pode ser desafiador, e se serve de consolo ao leitor, confesso que mesmo visualizar as cenas me foi custoso. Eles eram tímidos, mas não podiam evitar que se destacassem dos demais, e eram maravilhosos e eu os amei demais naquele momento. Eu, se não completamente afeito à situação, era ao menos o mais descontraído dos cinco, mas ainda me doía que não me seguissem. No começo, achei que fosse o entusiasmo, ou essa necessidade que aqueles que se encontram artificialmente em uma determinada posição têm de legitimar que ali estejam ainda que para isso tenham que agir de forma exagerada, muitas vezes forçando uma autoridade maior do que a daqueles que ali nasceram. Essa teoria me explicava o por quê de não recorrerem a mim, mas logo meu incômodo se tornou demasiado.
Não me ouviam (nem Gustavo, nem Laura!), não me incluíam nas conversas entre eles ou com estranhos, não me procuravam quando me desgarrava. Por três vezes fomos obrigados a parar e pedir informações e nas três vezes fui eu quem conseguiu as melhores respostas. Só por isso é que, em uma quarta ocasião, Alex virou-se para mim e perguntou se será que eu poderia ver isso com aquele grupo, porque por algum motivo eu me dou bem com essas pessoas, e foi então que eu fiquei realmente nervoso e falei girando no meio do grupo (porque falava para todos, e não apenas para Alex) que é óbvio que eles se dão melhor comigo porque eles são eu e tudo o que vocês procuram aqui sou eu e eu estou com vocês o tempo todo, mas eu não entendo por quê eu não sirvo.
Eu estava girando e também bêbado, e eu via todos eles, menos Alex e Joana que já não estavam lá (teriam ido perguntar, teriam...), eu via todos, Gustavo, eu via Laura do lado dele e eu no meio e eu via a forma como ela me olhava e foi então que eu entendi.
Depois, não sei bem. Acho que tive um branco, um apagão. Talvez eu só não me lembre. Lembro de Laura, depois. Gustavo foi comprar cerveja, eu acho, ou ao banheiro, ou talvez ele estivesse ali, mesmo, e eu é que não via. Eu falei para Laura que eu tinha entendido, eu falei que eu estou perdendo, não é, e ela disse que sim. Eu disse o jogo, não é, e ela disse que era. Depois eu vi Gustavo, ou então ele voltou. Depois a gente estava em casa, tanto faz. Quando eu cheguei eram quatro pessoas, depois dois casais viraram o mundo. E eu perdi.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
A vida não é o bastante (13/10/08)
E era aí que estava seu diferencial, era isso que lhe dava a maiúscula, era esse seu dom de olhar e enxergar o que queria, e podia ser um canto de algum pássaro ou de algum prédio, sempre havia alguma coisa que lhe apontava algo mais no dia a dia, onde outro qualquer, nada veria. Então, pintou pelo resto da tarde, e nenhum dos presentes reconheceu a paisagem pintada e julgaram-no louco, porque nenhum via a Arte que ele retratava. Viam nos prédios, pedras; nos pássaros, penas, apenas. Porque vazios, viam vida, e era pouco.
terça-feira, 26 de maio de 2009
Um post demasiado bunda-mole
Sangue na minha boca, sempre gostei do sabor, mas agora... Sinto vontade de compartilhar com você. Você percebe, é claro, e me beija para sentir o gosto também, mas acho que não é só isso, talvez seja essa sua mania de concluir as coisas, talvez você só queira dar um beijo que sabe ser o último.
Esse sou eu, obviamente antes. Você ainda não está lá, mas não deve demorar. Veja: eu manobro o barco e desço no cais e lá está você, próxima ao muro, meio escondida, porque somos só nós dois, sempre só nós dois, desde que tínhamos o quê? Dez, onze anos? Não mais do que isso.
Na época eu achava que me doía ver você tão sozinha, tendo que deixar sua família por mim. Pensando agora, acho que eu nunca me senti culpado de verdade. Você sabe que nós nunca tivemos por quê nos desculpar, e na época eu acho que a minha raiva de tudo ainda não havia se desenvolvido tanto, eu acho que as coisas entre nós eram maravilhosas demais para eu perceber. Por isso é que foi só quando as coisas se radicalizaram, quando os do nosso tipo passaram a ser perseguidos (e nçao só histilizados), só então é que nossa história começou.
Eu me lembro de ficar bravo porque você sempre foi mais criticada do que eu, só porque eles achavam que você não havia nascido assim, havia escolhido depois, por minha causa. Como se isso fosse coisa que se escolha! Eu me inconformava, você se lembra, eu achava odioso, e agora, quem diria?, você vem e me mostra que não, que foi melhor eles terem pensado assim! Que pelo menos um de nós pode se salvar e basta que ninguém jamais descubra que, por essa sua teimosia besta, você decidiu me dar um último beijo, ainda com a arma quente na mão.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Um post demasiado pessoal
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Somos todos sádicos
E sofremos e choramos, (Nós sabemos o quanto dói.)
E ainda quanto fazemos para que nos amem!
domingo, 26 de abril de 2009
Acaso, 2
O segundo encontro foi na mesma casa noturna, só que uma semana depois. Era quinta-feira. Ele estava falando com outra garota, o braço apoiado na parede como que cercando ela, que também se encostava, só que pelas costas, e então alguém o cutucou e ele virou e era Laura. A outra menina, a encostada na parede acabou ficando com o copo de caipirinha, mas aquilo parecia promissor.
Treze horas antes ele saía da faculdade e Raíssa o chamou e eles ainda tinham aquele trabalho pra entregar na mesma semana e ele percebeu que ela tinha certeza de que ele não faria absolutamente nada.
Com a luz piscando daquele jeito, era engraçado ver Laura dançando, porque parecia um filme em stop-motion. Ela não era de verdade linda, mas quando virava de costas e abaixava com uma mão sobre a cabeça, quando ela virava e o puxava e mordia o seu lábio de baixo (o lábio de quem?), com a música daquele jeito, aquilo era exatamente o que ele esperava de uma quinta-feira às duas da manhã.
Não, não, ela podia deixar, claro que ele ia fazer a parte dele, mas aquele meio sorriso descrente era tão incrivelmente irritante que naquele momento ele decidiu que não era mentira, que ia mesmo. Não, não, claro, amanhã se reuniriam. Amanhã? Certo, certo, às 7h? Por Deus, logo às 7h? Numa sexta feira, às 7h? O quê? Sim, sim, claro, às 7h, então. Sem falta.
Aquilo estava começando a ficar impróprio para o lugar, e todas as pessoas olhavam e Fernando estava se exibindo, mas também concluía que era hora de sair dali. Quando a puxou de leve ela virou e mostrou a língua e tinha uma pílula lá que ela deu pra ele em um beijo e também, que importava que olhassem? Fernando era mãos e língua, Laura era corpo, o resto era o resto. Mais uma caipirinha, então, e agora era ela que puxava, e as paredes passando também em stop-motion (ainda era por causa da luz?), trombou com um casal, todo mundo riu, ou foi só ele, e já estava pagando a conta de novo e saindo.
Dessa vez, estava com a chave do carro, então entraram e chegou não sabia como à casa dela. Ainda no carro, se derrubavam, se puxavam, se rasgavam, então era só ela falar alguma coisa para ele dizer que sim, que queria entrar fosse para que fosse. Mas então era aquele sorriso duvidando de novo, ele língua, ele mãos, ele não querendo ser cabeça, e ela corpo, ela língua, também, e já eram quase quatro horas, apenas, quatro horas e uma noite inteira pela frente, já quatro horas e amanhã, às 7h, língua, corpo, mãos, mas então cabeça e um beijo que tinha a clara intenção de ser o último, pelo menos por enquanto. Ela riu, entendeu, saiu do carro. Dessa vez ele pediu o telefone, mas ela já batia a porta do carro e, se ouviu, fez que não.
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Acaso, 1
Chegou-se a ela pondo a garrafa (não a mesma) em cima do balcão e se assustou quando ela pegou a cerveja, tomou todo o resto de um gole, puxou-o pela gola da camisa e o levou para fora da casa noturna. Nunca tinha sido assim para ele, e ele seguiu, porque os amigos provavelmente fariam o mesmo. Pagaram as contas, cada um a sua, e riram juntos quando sentiram o vento da noite fria, em contraste com o calor esfumaçado de dentro.
Nessas situações, ele costumava... Costumava o quê? Nunca houvera outra situação como aquela, e ele demorou quase um minuto para se constranger porque a chave do carro não estava com ele. Ela riu e fez sinal para um táxi.
Fernando abriu a porta para ela, na tentativa de retomar o controle das coisas e entrou no carro já se inclinando para mais um beijo, mas quando foi fechar a porta atrás de si, viu que não podia. Uma pausa: não era nenhum impedimento moral que mantinha a porta aberta, mas a mão de Thiago, um dos dois amigos, que segurava a porta e indicava com a cabeça o terceiro deles, Felipe, que claramente tinha bebido demais. A Fernando, restou suspirar, terminar o beijo interrompido e sair do táxi com uma desculpa murmurada. Ele não pediu o telefone dela, nem ela o ofereceu.
terça-feira, 14 de abril de 2009
Sem título
Nem me vira assim as costas!
Dei-te asco, eu sei, mas fiz
tudo pra ser o que gostas.
Não espero que te lembres –
o tempo agora é passado.
Só o que peço é que tu saibas
quem tiveste ao teu lado.
Quero que saibas ao menos
que um dia foste quista
em silêncio e sem segredo
que o amor se dá na vista.
Já não saberei como andas
ou de quem tem companhia.
Só me importa que tu saibas:
que se não hoje algum dia
Tiveste alguém que a ti quis
melhor do que a si próprio.
Que a ele foste colírio
Teu sorriso era seu ópio.
E se agora o passado e
não presente ao verbo emprego,
por favor diga que isso
não te tira o sossego!
Se depois a vida segue,
que te importa se eu esqueço?
Não te valhe que tu saibas
já ter sido alvo de apreço?
Se hoje eu a outra chamo,
não é desprezo ao beijo teu!
Não te valhe já saberes
que tua vida a alguém valeu?
domingo, 12 de abril de 2009
Doce vida
Como o homem que se sabe traído e sente a vergonha de fingir o que não se finge e que espera acordado e acredita no que sabe mentira (duplipensa?) e perdoa tudo sem perdoar nada, pois não há o que perdoar, não há traição, não há nada. Que ouve as fofocas e o nome trocado e ainda paga o analista, dentista, oculista, recebe em casa o amigo comunista, mas não liga, não liga, que a ama, que a ama.
E como o homem que quer se saber senhor porque não pode cogitar que não a possua, porque quer-lhe tanto que inteira e toda, e como a mulher que volta à noite para casa (nunca deixa de voltar) e, ao ver que a espera, reconhece-o grande e sabe-se menor e curva-se e oferece-se inteira, porque amamos.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Haha,
Eu sou o outro, no banco em frente, um livro disfarçado na mão. Eu vejo as lágrimas e não ouço a discussão. Quando levantam e saem, não sei se vão se ver de novo, se vão se amar de novo. Também não me importa, e é bom que posso voltar a ler.
segunda-feira, 23 de março de 2009
Balada da Penitenciária de Reading
I
Ele não vestia a casaca vermelha,
Pois rubros são o vinho e o sangue,
E o sangue e o vinho estavam em suas mãos
Quando o acharam com o corpo exangue
Da pobre moça morta que ele amou
E assassinou na cama, estanque
Ele andou entre os jurados
Em roupas de cinza vil
Tinha um boné sobre a cabeça,
Seu andar era leve e pueril;
Mas eu nunca vi um homem que tivesse
Tão melancólico perfil
Eu nunca vi homem devotar
Tão melancólico olhar
Para o pouco de azul que de céu
Os prisioneiros ousam chamar,
E para cada nuvem que flutuasse
Com o vento a soprar
Eu andei com outras almas que sofriam
Dando voltas no chão de terra
E me perguntei se era pequeno ou grande
Aquilo que o homem fizera
Quando ouvi um sussurro atrás de mim:
“Aquele camarada já era.”
Por Deus! As próprias paredes da prisão
Pareciam bambas, de repente
E o céu sobre minha cabeça
Virou um elmo de aço quente
E ainda que minha alma sofresse
Era uma dor que já não se sente
Eu só sentia as idéias assustadas
Que lhe apressavam o caminhar
E o motivo de ele voltar ao dia
Tão melancólico olhar;
O homem matou aquilo que amava
E por isso o iam matar.
Porém todo homem mata aquilo que ama,
Uma verdade a todos dada,
Uns o fazem com um olhar áspero,
Outros com a lisonja falada,
O covarde o faz com um beijo,
O valente com uma espada!
Alguns matam seu amor quando jovens,
E outros já quando idosos;
Alguns sufocam com as mãos da Luxúria,
Outros com punhos d’ouro, brilhosos;
Para propiciar morte mais rápida,
Com facas matam os mais generosos
Um ama de menos, outro demais,
Um compra o que outro vende;
Um chora durante o ato,
Outro dor nenhuma sente:
Pois todo homem mata aquilo que ama,
Ainda que contra nem todo a morte atente.
Nem todo homem morre em vergonha
Em um dia de negra desgraça,
Nem tem um nó ao redor do pescoço,
Nem sobre a face uma mordaça,
Nem cai de pé quando o chão se abre
Em uma palanque em plena praça.
Nem todo homem senta-se entre outros
Que o observam noite e dia;
Que o observam quando quer chorar,
Ou orar em agonia;
Que o observam para que não se lhes furte
O prazer de tirar-lhe a vida.
Nem todo homem acorda e vê
Em seu quarto figuras de terror,
O vacilante Capelão de branco,
O Xerife ameaçador,
E o Governador em preto brilhante
Com o rosto condenador.
Nem todo homem levanta de supetão
E veste as roupas de prisioneiro,
Enquanto um doutor ri com sarcasmo,
E nota cada tique ou trejeito,
Batucando em seu relógio cujo tique
Soa qual terrível golpe certeiro
Nem todo homem sente a sede
Que resseca a garganta
De quem espera o carrasco
Que pela porta se adianta
E o amarra com tiras de couro:
Finda a sede que era tanta
Nem todo homem se inclina para
Ver-se ser sepultado
Nem, enquanto ouve “estás vivo”
Do coração atormentado,
Fecha o próprio caixão e segue
Para o horrível outro lado
Nem todo homem perde o olhar,
Vendo as grades por detrás:
Nem todo homem reza, a boca seca
Pra que a agonia o deixe em paz
Nem sente na bochecha trêmula
O beijo de Caiafás
sábado, 21 de março de 2009
DO
Enquanto corria, teve tempo de pensar e pensou em Marcela sozinha no porto e numa espera que não acabou e pensou na noite chegando e nos tipos que desfilavam pelas sombras e em palavras que assustavam, em gestos e em facas. Pensou nela lhe odiando (pensou nela, lhe odiando) e se perguntou porque não havia acreditado que ela esperaria, porque havia deixado uma briga tão pequena, tão insignificante tirar-lhe a certeza...
E então chegou ao porto e gritou-lhe o nome e gritou-lhe o nome e gritou-lhe o nome, mas já não estava lá. Conforme voltava, era tão destruído seu semblante que um jovem não se pôde conter e pôs-lhe a mão no ombro e perguntou o que havia acontecido, e ele teve de ser sincero e disse Havia apenas uma mulher no porto, e não era a minha.
Para seu espanto, o outro ouviu as palavras com lágrimas nos olhos, porque
LOOP
sexta-feira, 13 de março de 2009
Lucy in the sky
Que importa, afinal, que nasceu homem?
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
O carvalho e o seixo
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Se você ligar,
Se toca, faço pior.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
"Não,
“Bem, apoie se quiser e sinceramente, vinha já cogitando o divórcio, mesmo.”
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
Beijá-la
Longe assim (de mim) é ru-im. Aqui, sim. Visto de cima tudo é menor, tudo nada importa (não é uma metáfora), explodindo tomates, voando de costas. Cai pra lá, cai pra cá: é a chuva vista ora de cima ora de baixo das nuvens. É um circo como eles deveriam ser, é um poema lido de dentro.
É um
beijo.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
Eu não sou um sexopata
E, no entanto, não tinha.